quinta-feira, 3 de agosto de 2023

NOUTROS DIAS, SABERIA!


Noutros dias …noutros dias… saberia o que te dizer. Saberia, como sempre soube, falar-te de mim ou dos sonhos que preenchem espaços ... ou de simples devaneios que esvoaçam por aí ou de meras ideias sobre o mundo ou, ainda, das gentes que o povoam. Noutros dias,saberia dizer-te de tudo um pouco, saberia afirmar-te nada de muito…trautear sobre as músicas que me alegram, projectar as imagens que capto com a objectiva do meu olhar, palrar sobre as filosofias – ‘baratas’ ou acertadas - que por aí grassam. Saberia brincar sobre as coisas e as pessoas, trocar contigo pormenores da vida e teria sempre tantas palavras… Todas as palavras! Noutros dias…saberia… Nestes dias…Agora!… Agora, já não sei… Já não sei se te posso dizer, tudo aquilo que te queria dizer, que te quero dizer! E que te digo… em tom de solilóquio, em jeito de toada ou trinado que canto para mim própria acalmando o meu ímpeto em desejar afirmar-te tanta coisa ao ouvido… e, ao ouvido, queria dizer-te…queria dizer-te baixinho, tão baixinho, quase um sussurro…apenas num sopro que só tu poderias e conseguirias ouvir… Queria dizer-te que não sabia! Que não sabia que iria sentir assim… Assim!… tão simples mas tão cheio. Que não sabia que iria albergar uma saudade assim… Assim!… tão grande e tão intensa que… que, o silêncio dói… assim, cá dentro, tão fundo. Que não sabia que iria pensar assim… Assim!… em nada mais, nestes dias, que não apenas e só em ti. Que não sabia que o teu abraço seria assim… Assim!… tão fundamental , tão vital, que me alvoroça recordá-lo. Que não sabia que iria ser assim… Assim!… o sentido da ausência do teu aconchego… Assim!… agora que senti o teu peito no meu rosto, como se fora esse! desde sempre, o sítio natural para o pousar. Queria dizer-te que não sabia que o teu toque seria assim… Assim!… mais do que mera perturbação e que, o teu acalento seria assim… assim, mais do que simples ardor. Queria dizer-te que não sabia que o estar perto de ti, seria querer-te… junto de mim, dentro de mim, dentro de ti, dentro de nós. Não sabia… Agora Sei!

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(historietas avulsas d’um livro inacabado)

Foto e texto: ASM

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Há momentos...

"Há momentos na vida, quando o nosso coração está tão cheio de emoção que, se por acaso ele é agitado por alguma palavra descuidada, essa emoção transborda, como um segredo que se revela aos nossos olhos..." 

domingo, 30 de abril de 2023

QUASE-RIOS


Estou febril.

Sinto-me febril.
Reconheço bem esse estado, não propriamente rotineiro mas suficientemente habitual para o topar de ginjeira e lhe perceber as manhas.

Febril de temperatura, que me deixa a pele inusitadamente fresca embora eu lhe (pres)sinta arrepios, assanhada em picos de poros e pelos.

Febril de ideias que me sacolejam a mente, a perturbam ao limite da sanidade e a estimulam em córregos fluentes. Ideias que, soltas, correm pelos imaginários regatos de pensamentos, quase-rios, deixando-me as veias a arder com a sua revolta agitação.

Há dias em que pensar me cansa, assim como sentir me cansa, também. Enfim, é a própria vida que me cansa e desgasta. Cansa-me a vida e cansa-me esta febre… uma febre de sentidos intensos e fartos e de enrodilhados vazios, que me deixam em perplexidade de não saber se estou completamente cheia de nada ou completamente oca de tudo…

Estou febril. 

Sei isso!
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(reavendo palavras de 2011)

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

O Templo


Muitos refugiam-se na Igreja para encontrar a serenidade do seu Deus. Não contesto. Cada um tem a sua forma de se chegar perto!

Há muito que o meu templo de Paz é a Natureza, simultaneamente, espaço e divindade, assumindo género feminino na acepção, lugar amplo -sem fronteiras de janelas, teto ou chão- extensão profusa de vida.

Sou uma privilegiada, não preciso de calcorrear grandes caminhos para encontrar dessa paz que só a Natureza-Mãe me sabe conferir.

Basta-me –quase ao lado dos quotidianos- prosseguir ao encontro da serra, com a sua floresta e rios. Então, aí, longe por algumas horas de qualquer assomo de vida humana, calcorreando caminhos, veredas, atalhos e trilhos quase indecifráveis, encontro-me com o mais telúrico, criando lugar para a reflexão, para o sentido mais despojado, para a compreensão mais simples do mundo.

Posso, então, absorver do que me envolve e criar dentro de mim, energia para algum entendimento da minha própria natureza, quiçá, para algum entendimento da própria Humanidade.

Depois, imbuída do azul e verde, apanágio dos regatos e das árvores, do orvalho e da clorofila, regresso -por fim- aos circuitos de todos os dias com mais de mim, porventura, um pouco renovada, para então -melhorada na minha própria versão- me partilhar com os que me rodeiam .


FOTO: ASM #SerraLousã 

Linhas de Vida... (69)


 

domingo, 18 de julho de 2021

ali, à minha frente...

«Ontem à noite, da janela observei a esquina do meu quarteirão. Um redemoinho de luz formado pela água da chuva em dança voluptuosa.

Os movimentos giratórios criavam imagens sobre a calçada e o asfalto, sob a luz branca e crua dos candeeiros públicos.

Olhando com intenção de compreender, reparei que formavam quadro com sentido e coerência, como se seres -possivelmente com laivos de humanidade -  se confrontassem entre luta desigual entre o desejo, a paixão, a delicadeza, a ternura, quiçá o amor, essa coisa altamente improvável de existir em estado puro e desinteressado.

Fixando os olhos com maior precisão, entendi que os seres formados pelo vento das copiosas gotas de água, compactados nos feixes de luz nua e branca, libertavam sons que tanto podiam ser de êxtase e comunhão quanto de sofrimento e dor. Uns, esganiçavam-se em cânticos, outros numa espécie de urros ou gemidos, num qualquer linguajar incompreensível.

Da janela, não me conseguia aperceber se tratavam de seres assexuados ou de género bem definido.

Do esforço, os olhos latejavam de ardor com o esforço de captação da imagem e, simultaneamente, de compreensão do conteúdo.

As espirais criavam histórias entre si, histórias de envolvimento e lutas; composições de beleza e fealdade; cenários de intensidade e marasmo.

Ali, à minha frente, desfilavam os meus temores e os meus sonhos numa dança de sensualidade e de ousadia; de regressão e medo; de catarse. Passos à frente, passos atrás, o vento a forçar-lhes as ancas inexistentes, os braços idealizados, as cabeças de corpos meramente imaginados, rodopiando e forçando os feixes de luz...

Tempos estranhos...

 


Há muito tempo que não escrevo. Falta de tempo, falta de vontade, falta de sentir ou melhor falta de sentir de formas diferentes, daquelas que preenchem os espaços vazios e o acalentam. O mundo anda estranho, mais estranho do que a estranheza habitual de guerras além, violências, excessos e misérias, poderes agigantados. Instalou-se o medo de algo etéreo. O inimigo não é concreto e palpável, é invisível, anónimo. E esse medo torna-se dia para dia maior, grandioso na sua dimensão de família, comunidade, região, país, mundo. E cria maiores vazios de afectos, não obstante o estímulo de solidariedades e cidadanias. E torna-nos pessoas solitárias. Sós do mundo, sós dos outros e, às vezes, sós de nós! 

sábado, 10 de abril de 2021

ao invés...


queria ser para ti um lago de águas doces, serenas em que tranquilizasses o teu espírito  ao invés de um mar tumultuoso que embravece o teu cerne...um mar quase mau, daquele que afoga os pescadores!



chuva...

Borrifo as Palavras com gotas frescas de chuva em tentativa - vã? -  de lhes conferir significados!!!

domingo, 20 de setembro de 2020

ficas Tu e o vazio...














Entre uma ponta e outra do meu pensamento ficas Tu e o vazio!

Tu, naquela imagem recorrente de homem caminhando sobre um fio de luz quase imperceptível sobre o imenso breu logo abaixo, dos lados, em cima, em todo o espaço...

Entre uma ponta e outra do meu pensamento...ficas Tu e a sólida, a lúcida e a absoluta constatação de todo o vazio da minha vida sem ti!

sábado, 9 de maio de 2020

...apenas...


·        Há dias que limito o meu sentir à superfície.

Ternura




















«Amo-te, disseste-me, assim! 
Sem delongas, sem toque, sem atavios a florear o momento.
Apenas os lábios a proferir a palavra e os olhos a acariciar-me o rosto.
                [Confundi-me? Seriam apenas os olhos a soletrar as letras?]

De permeio todo o espaço imenso das vidas.
O silêncio após forçou o eco das palavras no pensamento.

Diz outra vez, pedi 
                [Terei ordenado?].
Amo-te, disseste 
                [Terás obedecido?].

Enleada com a surdina da palavra, toquei os teus lábios com a ponta dos meus dedos                        [Beijando-te?] 

E sem tempo...deixei-os aí ficar, transferindo o som para dentro de mim, como se a vida e o futuro se concentrasse nessa mera palavra.»

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Quero recordar-me de ti...


Tributo e Homenagem Pessoal a Carlos Carranca

Quero recordar-me de ti, assim, a sorrir e com o jeito matreiro no olhar que por vezes surgia quando conseguias fintar os pensamentos das pessoas, sempre mais lentos do que os teus, sobretudo quando dissertavas sobre o que ou quem te enchia a Alma.

Quero recordar-me de ti e da tua expressão ausente quando te perdias em pensamentos de outras dimensões, no meio dos nossos burburinhos mundanos e eu troçava de teres voado sem asas em pleno almoço ou jantar na “Pensão Estrelinha” da Mãe-Lena (esse nome tão carinhoso que davas à Casa da tua família de coração na Lousã). Ou ainda ao jeito de tertúlia caseira, das larachas e das picardias trocadas com o Pai deMatos em torno das políticas actuais e de outrora ou das acções feitas e desfeitas em Coimbra ou da Briosa de antenho e de agora.

Quero recordar-me de ti e da forma peculiar como interiorizavas os poemas, assim numa declamação em surdina, para depois em momento próprio dizeres com voz possante, semblante confiante e mãos expressivas, as palavras de Torga ou de Leonel Neves, as toadas de Goes ou os teus próprios sentires.

Quero recordar-me de ti
e da forma como ficaste sensibilizado com o jeito como captei o fundamental dos teus poemas eleitos no momento em que apresentei os teus “55 Poemas de Idade” e de como eu, mera Aprendiz, me orgulhei do convite do Artista mais confiante nas minhas qualidades do que eu própria inquieta e receosa de não merecer tal honraria.

Quero recordar-me de ti guloso pelos sonhos, os com calda de açucar e os outros que orbitavam nas tuas ideias e que te transformavam em Quixote em plena Mancha de Unamuno.

Quero recordar-me de ti a receber orgulhoso o Prémio da terra, que é sempre um momento feliz quando se é reconhecido em vida, entre os seus.

Quero recordar-me de ti no quintal da Casa do Prilhão - de boina basca e capa sobre os ombros por debaixo da latada de videiras entrançadas nos kivis com o gato a rondar-te as pernas - acossado com as corriqueirices do quotidiano mas disperso em reflexões e considerações, conjecturas e perplexidades – porventura em confissões interiores ao teu “Cristo de barro” - … “já escrevi um livro inteiro na minha cabeça”… “chego à Lousã e escrevo, escrevo, escrevo, porque em nenhuma parte estou mais perto de mim…”, afirmavas, então, porque sentias que o centro da tua Pátria era aqui!

Quero recordar-me de ti com a admiração telúrica que se nutre pelo Irmão mais Velho, pelo Amigo, pelo Mestre e pelo Homem Bom, Grande no seu conhecimento universal de todas as coisas mas sobretudo da sua própria Natureza.

Quero recordar-me de ti através da grande Obra que nos legaste como testemunho e partilha da tua Humanidade, porque Assim!, o Poeta permanecerá, ficará para sempre pela Terra dizendo Cantigas para Sonhar(mos) e, dessa forma, de quem se despojou em vida, tornando-se eterno!


Para a Rosinha, o João, o Miguel, o Miguel B., a Judite B. e  a Tia Alcina B., a Sandra, a Xu e toda a demais família, com o carinho da ‘família da Lousã’.
Ana Souto deMatos
Lousã 01/09/2019

última aparição em sessão pública de Carlos Carranca no evento "Essa Palavra, Liberdade!" 
a 25 de Abril de 2019 no Museu Álvaro Viana de Lemos na Lousã 
por ocasião da comemoração dos 45 anos do 25 de Abril 



quinta-feira, 29 de agosto de 2019

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Ficção Científica!


Teletransporto-me para junto de ti e agarro-me segura ao teu peito firme.

Aconchegados no colo um do outro percorremos a galáxia para além da última das últimas estrelas.

Não evitamos cometas, nem colisões com os meteoros...

Uma viagem sideral para lá dos confins do universo...

Enfim, caímos na escuridão de uma nova, que nos suga e absorve no seu buraco negro até adormecermos exaustos da viagem galáctica.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

[diálogos (2)] ...uma espécie de Marca...


- Estás com um olhar tão ausente daqui, mas tão preso num qualquer  lugar.... - A Amiga proferiu para o ar, não esperando resposta.

Do outro lado porém, assim confrontado, o olhar focou-se de novo na realidade:
- Alguma vez tiveste alguém perto de ti, tão perto… os joelhos no solo, sobre a relva... tu, sentada no banco de jardim… a sua cabeça pousada nas tuas pernas, numa atitude de dádiva, de despojo? Assim tão próximo num momento de oferta de si em silêncio “aqui estou, mostro-me a ti, recebe-me como sou. Aqui estás, mostra-te a mim, aceito-te como és”? Alguma vez, assim num-sentir-sem-palavras, na plena sintonia desse toque breve?  Apenas o rosto sobre os teus joelhos… num momento tão, tão simples mas tão, tão intenso, que os escassos  minutos se tornam marca eterna gravada no coração e no pensamento? Alguma vez? - repetiu.

Maria abanou a cabeça numa negativa sem inveja, antes de desejo de ter vivido ou alguma vez poder viver algo de semelhante….

- Eu tive esse momento… faz muito, muito tempo, mas permanece ainda… permanecerá sempre.

De permeio, entre ambas apenas o silêncio e a imaginação a galgar os anos.

Insistiu: - Será  que compreendes?
A Amiga pensou compreender!

quarta-feira, 28 de março de 2018

Há gestos que iluminam os dias sem sol...


"Junquem de flores o chão do velho mundo:
Vem o futuro aí!
Desejado por todos os poetas
E profetas
Da vida,
Deixou a sua ermida
E meteu-se a caminho.
Ninguém o viu ainda, mas é belo.
É o futuro...."
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Miguel Torga 


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[Há prendas boas...daquelas que iluminam o dia! Mesmo os dias sem sol! 
Em formato de Poesia, dizem tanto, dizem mais ainda...
Obrigada Teresa]
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sábado, 30 de dezembro de 2017

Olho para TI....

olho para TI…
O meu CORAÇÃO inquieta-se

olho para TI…
E não sei dizer o tempo deste SENTIMENTO… 
                   (desde SEMPRE, é muito tempo?)

SEI –todavia- 
que qual pequena NASCENTE que brota do degelo após o Inverno frio
e, num repente, já é regato
e, logo depois se transforma em riacho
este SENTIMENTO flui como um RIO nas minhas veias, atravessa o PENSAMENTO e alcança o CORAÇÃO.

olho para TI
e, num instante, já te transformaste em SEMENTE que com a água germinou e cresceu planta, depois ramos, a seguir ÁRVORE, enfim FRUTO.

olho para TI
E és PEDRA, ROCHA, negras penedias em XISTO, aldeias escondidas na SERRA, escarpados vales VERDES, cobertos de FLORESTA.

olho para TI
E reconheço-TE minha… 
                    [Sabes? 
                    É que tu e eu temos a mesma ALMA SERRANA, aquela que se entrega só        depois de prova de LEALDADE, 
após as tempestades invernosas e o ardente estio, 
florindo só então –C O N F I A D A M E N T E- nos tons rosas e  roxos da URZE bravia que, mais tarde, se transforma em travo agridoce de MEL.]

olho para TI
E vejo GENTE BOA, daquela gente que abre os braços para acolher quem a procura…
daquela gente que tem orgulho dos seus USOS, 
dos seus COSTUMES, 
da sua CULTURA, 
da sua HISTÓRIA, 
GENTE que tem ORGULHO em ser quem é… em ser DAQUI.

olho para TI
és o meu TEMPO sem tempo
porque tenho em mim MEMÓRIAS tuas de passado, sinto o teu PRESENTE nos meus dias 
mas é o FUTURO que  antevejo de quem deseja PERMANECER e ser FELIZ 

olho para TI
 e o meu coração inquieta-se…

Sinto que és a minha RAIZ       
O meu CERNE
A minha MONTANHA
O meu TRILHO
A minha CASA
A minha FAMÍLIA
A minha VIDA.

olho para TI 
e sinto A M O R
A M O R

E, o meu amor tem NOME PRÓPRIO!
Sabes que falo de ti, não sabes?

Natural e Simplesmente 
És  (a) Minha
LOUSÃ!



Tributo à Lousã, enquanto sentido de Vida!
Ana Souto de Matos
Dezembro.2017

Autoria e Agradecimento

Todos os textos e imagens são de autoria de Ana Souto de Matos.

Todos os direitos estão reservados.

São excepção as fotografias do Feto Real e do Cardo que foram cedidas pelo João Viola e 2 imagens captadas na Net sem identificação de autor.