terça-feira, 25 de março de 2008

Olho em redor e, às vezes, piscas-me o olho...


Um mês passado...

Um mês passado e a saudade impeliu-me…a sair ao teu encontro…

Pedaços de ti permanecem no meu coração, no meu pensamento, na minha pele, nas fotos da sala, nos pequenos objectos dispersos pela casa e nos livros, nas nossas conversas diárias…
Porém sei que tu, verdadeiramente, não estás aqui…

Por isso, tive de ir ao teu encontro, de te procurar, de te sentir…

Fui até ao Norte. Quase três horas de pensamentos solitários, de recordações e divagações em torno do mesmo tema.

Passei fugazmente pelo cemitério, apenas para os outros não estranharem. Uma atitude socialmente correcta.

Tu não estavas lá!
Dois ou três minutos bastaram para confirmar a suspeição.
Por ali, só pedra e terra e flores de três amigas com uma mensagem singela mas sentida.

Por isso, fui à tua procura no único lugar em que te poderia encontrar….

Uma tarja negra cobria o símbolo de pedra dos teus ancestrais em sinal de luto. Por momentos, observei nesse acto dos vivos, uma certa necessidade de afirmação aliada a alguma incoerência… mas apesar de tal, agradou-me a ideia de te prestarem essa merecida homenagem.
Os narcisos –nascidos de bolbos semeados pela minha mãe para te agradar e mimar- despontavam gloriosos ao sol, impondo a sua presença nos canteiros do pátio e as camélias, essas, cobriam com um manto de pétalas, rosadas e brancas, o chão do terreiro em frente à casa, mesmo junto ao muro do laranjal.
Os terrenos estavam limpos de silvas… e ficou-me a sensação de que, agora, Santa Marinha é mais viável para os vivos…

Como terias ficado feliz com tal dedicação… afinal, o teu sonho mais grandioso era que todos os teus se reunissem em torno dessas pedras antigas que formavam a tua casa, a tua vida, o teu maior amor.

Tudo em meu redor transmitia beleza e serenidade… um ameno entardecer, luminoso e belo.
Encontrei-te por ali… nessa luz… nessas pétalas… nessas pedras… aguardando tranquilamente por mim, esperando sempre por mim com o teu sorriso complacente, com os teus olhos simultaneamente, paternais e travessos...
Dizias, frequentemente, que um dia te transformarias num dos fantasmas bons de Santa Marinha e eu, nessa tarde, simplesmente acreditei!

Autoria e Agradecimento

Todos os textos e imagens são de autoria de Ana Souto de Matos.

Todos os direitos estão reservados.

São excepção as fotografias do Feto Real e do Cardo que foram cedidas pelo João Viola e 2 imagens captadas na Net sem identificação de autor.