domingo, 31 de outubro de 2010

combustões internas...



atrevimentos

fogos inventados

com ou sem o sentido dos arrepios de
compreensão de toda uma vida
porventura
ideias apenas
de chamas,
e de outros fogos e
de outras combustões
ou de ousadias,
ainda de provocações
ou de audácias,
de lampejos de arrojo,
de insensatez
ou talvez apenas de sonhos
ou de atrevimentos.

domingo, 24 de outubro de 2010

ainda me impressiono...

É impressionante como vivemos e revivemos e voltamos a viver os dias, uns após os outros, tão absolutamente diferentes, tão absolutamente iguais e como a nossa apreensão sobre esses mesmos dias é também ela tão absolutamente diferente e absolutamente tão igual.

É impressionante como sentimos num determinado momento o mais profundo e telúrico sentimento por algo ou alguém e esse sentimento se assumir como o mais fundamental aos dias e ser profunda verdade, incontestada perante nós e incontestável perante os outros e como em noutro momento voltamos a sentir algo parecido, mas tão-outra-coisa, tão mais verdade ainda.

É impressionante como perante a natureza cíclica, nos encantamos sempre do mesmo modo, com uns oh e uns ah de profunda fascinação perante o adejar das folhas ou das borboletas, o saltitar da água translúcida e gélida sobre as pedras do seu leito, as gotas da chuva pousada nas folhas amarelecidas e ao mesmo tempo esse encantamento tanto diferir de tantos outros que já se tiveram antes, em outras Primaveras, em outros Outonos e como esse olhar se transmuta a cada estação e é sempre mais real e autêntico.

É impressionante como aprimoramos a nossa forma de ser e de estar, com o exercício de todos os dias, com a repetição de ideias e actos, pensamentos e atitudes, uns sempre iguais aos anteriores e apesar de tudo cada qual único e irrepetível, desigual dos demais por sua própria natureza. E como esse aperfeiçoamento é sempre incompleto e imperfeito e com espaço em si para mais esmero.

É impressionante que no meio de tudo, dessa nossa vida igual em si própria e tão diversa simultaneamente, ainda haja espaço para a surpresa com que esta nos contempla de vez em quando. Sobretudo quando menos esperamos e quando pensamos que nada mais irá acontecer. De diferente!

É impressionante como no meio de tanta ocasião idêntica, haja ocasiões que ainda nos marquem. Como ainda persista a inquietação, o desassossego. E como ainda no meio de tanta coisa, facto, momento, acto, circunstância e instante igual, parecido ou idêntico, subsista ainda o alvoroço, se sinta a vibração no sangue ou no pensamento e o nervoso da novidade.

É impressionante como apesar do peso da rotina do quotidiano somos sempre surpreendidos pela Vida, essa mesma tão igual a si própria.

E ainda por fim, é impressionante como apesar de tudo somos sempre uns absolutos iniciados, uns verdadeiros principiantes na forma como a compreendemos!
E é sempre a primeira vez!
E é sempre o primeiro olhar!
E é sempre um novo dia!
E é sempre boa nova!

(inspirações:
Absolute Beginners - David Bowie
Projecto artístico - CCB - Lisboa)

sábado, 23 de outubro de 2010

a criança e a arte... percepções na infância

Deambulações urbanas, para uma melhor compreensão do Mundo Rural
Interacções da criança com projectos artísticos no CCB- Centro Cultural Belém - Lisboa

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

domingo, 17 de outubro de 2010

fios muito ténues...




Fios muito ténues
nos ligam à vida, à sanidade, ao que é certo ou errado
nos ligam às situações, às pessoas,
               criando ou desfazendo tudo aquilo que importa ou não importa

Fios muito ténues
               quase diáfanos de transparentes
que na sua fragilidade representam um quase nada que pode ser tudo
               um tudo que nada é,
               um nada que avoluma em essencial
Fios subtis, delicados,
               quase débeis
que na sua honestidade identificam resistência e certeza.

Fios ténues que nos suportam no equilíbrio dos dias
entre o não sentir,
o desejar sentir,
o não poder sentir e
o simplesmente sentir

É este o mote…
'sente-se porque se sente…'
assim mo afirmaram,
assim o reconheço,
assim o sinto.


(fios muito ténues no dia em que uma história se emancipa e,
quem sabe? outra história nasce...)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

a vida é uma estrada...

A vida é uma estrada... li hoje numa daquelas frases-chavão que abundam nos nossos espaços virtuais, uma comparação-cliché, certa, usada, abusada de sentido-de-tudo-em-coisa-nenhuma.

Sim, sem espaço para dúvida, uma estrada, um caminho,  uma rota, um trilho, uma auto-estrada, um percurso, uma picada, um rio, um riacho, uma linha. Tantas imagens, para ilustrar os dias que se seguem um após o outro, tão anónimos, tão sublimes, tão públicos, tão só-nossos, tão intensos, tão vazios.

A vida é uma estrada, li! E no dia de hoje, 13 de Outubro, a frase-feita, quase desinteressante de tão banal, evolui no meu pensamento. Não da mesma forma e como teria sido habitual noutras alturas, para o espaço já percorrido, sinuoso e agreste como trilho de montanha, mas para o presente, para a minha condução de hoje que, em estrada mais ou menos direita e tranquila, me faz baixar o nível de atenção.

Não necessito de sentido apurado para conduzir em estrada plana, basta controlar a velocidade, atenta às viaturas que me precedem e às outras que sigo, às ultrapassagens aqui e acolá. Deste modo, torna-se relativamente fácil desfrutar da paisagem e dos sons do rádio, em momentos sem grande história mas que me mantêm mais ou menos tranquila. Uma condução sem avidez de chegar ao destino, a um qualquer destino, palmilhando quilómetros afoitos e suados, mas sim uma condução que me permite interiorizar o gosto, o prazer da própria viagem.

Para trás, encruzilhadas de acerto difícil, desastres catastróficos com colisões frontais e viaturas danificadas com final directo na sucata, cruzamentos e entroncamentos para respeitar sinalização de prioridade, aparcamentos de beira de estrada em momentos de dúvidas, reflexões e hesitações, embates certeiros em relvados de rotunda ou, simplesmente, abandono da viatura quando o jeito de condução se encontrou inibido.

Para trás, também,tanta coisa que encheu a minha viagem. Alguma bagagem deixou de ter espaço no meu carro. Vou-me desfazendo dos volumes menos interessantes, daqueles que não me deixam quaisquer saudades da sua existência. Para esses deixo de ter espaço na minha bagageira. Escolho, pois, aqueles que mais acarinho. Bagagem que quero conservar como recordação de tudo o que sou.

Continuo a viagem. Transporto a meu lado os que quero e aqueles que me querem. Às vezes, dou uma ou outra boleia. Muitas vezes, prossigo o caminho apenas na minha própria companhia. Aproveito esses momentos para divagar em pensamentos. Sobretudo todos aqueles que não ouso quando estou acompanhada, com medo que os descubram e desvendem na minha transparência de ser e de estar. Ouso sonhar e acalentar os mundos que há em mim, para os alimentar de cores e os tornar belos a meus olhos. Às vezes, só a meus olhos! Outras vezes, encontro também os olhos dos outros depositados em mim. E sinto agrado nesse olhar.

Abasteço de combustível a viatura com os detalhes do caminho. Os pormenores que me encantam e focalizam o olhar naquilo que importa, que me importa.

Não uso o GPS, essa modernidade tecnológica que não necessito perante o meu dom assumidíssimo de orientação, face aos pontos cardeais reconhecidos pela posição do sol ou das estrelas … prefiro seguir ao sabor dos caminhos com que me deparo, quase como por instinto, sem rotas delineadas em cartografias de papel.

Sigo a estrada da vida, dessa vida que é uma estrada na frase-feita que hoje li.
A paisagem é bela se continuar a ensinar o meu olhar a contemplá-la com olhos de sentir.

E toda a linha do horizonte clama por mim!

domingo, 3 de outubro de 2010

escolho a pontuação (...)

algumas vezes, falamos das coisas sem palavras
(estas, tímidas ou discretas,
deixam-se estar por ali espreitando subtis)
o sentido surge, porém
fica,
permanece,
basta!
(serão precisas tantas palavras? 
porque preciso das palavras?)
falamos sem palavras o sentido do que não se diz
basta o sentido do que não se diz

por vezes,
às vezes,
basta-me o que não se diz

Autoria e Agradecimento

Todos os textos e imagens são de autoria de Ana Souto de Matos.

Todos os direitos estão reservados.

São excepção as fotografias do Feto Real e do Cardo que foram cedidas pelo João Viola e 2 imagens captadas na Net sem identificação de autor.