segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Exageros (que pontuação escolher ! ou ? ou ...)

É um exagero o olhar (Um excesso de imagem que nos confunde a visão)
É um exagero o querer (Um excesso de sonhos, de desejos, de vontades)
É um exagero o sentir (Um excesso de sensações, de compreensões, de sentimentos)
É um exagero o viver (Um excesso de partilhas, de ligações, de existência)

Qual a dose certa de acepção?
Dão-me solução… por aproximação e erro…
Acrescento, por afastamento?
Não sei medir intensidades reguladas por códigos
A dose certa contraria-me o olhar, o querer, o sentir, o viver

Qual a medida certa?
Deveremos amputar a nossa medida para não sermos apelidados de desajustados,
desfocados quiçá,
para nos padronizarmos,
para nos inserirmos na linha de montagem,
para simplesmente fazermos parte de um todo?

Não o quero.
Assumo pois o exagero.
Do olhar, do querer, do sentir, do viver
Mesmo que entristecida porque contrariada.

Não consigo dominar o meu rio interior.
É selvagem e solto.
Sou eu.

domingo, 26 de setembro de 2010

a imbecilidade das mãos abertas ou uma filosofia de vida caída em desuso?

Há dias que nos sentimos uns perfeitos imbecis.

Levantamo-nos acreditando que o sol lá fora tem energia suficiente para perpassar a epiderme e nos aquecer o coração, quem sabe até a alma...
(essa coisa, a alma, mais ou menos etérea, vaga, subtil, difusa, indefinida que existe, simultaneamente, dentro e fora de nós mas que quase incompreensivelmente nos é intrínseca).

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ser Português. Ser Pessoa...

“A minha pátria é a Língua Portuguesa”...
Mas que Língua? Mas que Português? Ando confusa.


Sinto que se faz uma revolução linguística ao contrário e que a língua-mãe-pátria-de-camões, ancorada ao conceito de portugalidade e de descoberta de novos-mundos-ao-mundo está, irremediavelmente, perdida em contratos de diplomacia que a sugam, centrifugam e a subjugam aos milhões que a falam com laivos e sotaques, em evoluções e dinâmicas sem regra e que, velozmente, a transformam numa outra coisa qualquer.

Nada tenho contra outros linguajares em torno da raiz. Acho-lhes, até, piada. Gosto do confronto comparativo entre formas de dizer, que resultam da apropriação cultural, das vivências em outras paragens, da integração de outros saberes. Assumo, ainda, o meu carinho –quase ingénito- pelo Brasil e de forma inerente pelo português brasileiro. Anualmente, em deslocações de trabalho ao quase-continente sul-americano, adequo a minha expressão ao entendimento daqueles que não estão habituados aos sons carregados da língua que me, que nos, é materna.

E, num ápice, pequeno-almoço se transforma em café da manhã ou desjejum, a empregada em garçonete. Não me aperreio com o facto de rés-do-chão ser térreo, camisa de dormir ser camisola e camisola ser camiseta, de autocarro se transformar em onibus, portagem em pedágio, berma de estrada em encostadura. Acho piada, brinco com as palavras, faço trocadilhos, confundo, embaraço e embaraço-me (no bom sentido, é claro). Xeroco fotocópias, faço apresentação de projecto em telão e, principalmente, não estresso, como se tratasse de um jogo didáctico-pedagógico em que a re-construção do sentido é uma charada saborosa, soalheira e ritmada ao som do samba. No Brasil, o meu próprio jeito de falar vai ganhando gerúndios e o som das palavras se abanando ao som da bossa nova “vou-te contar, meus olhos já não podem ver, coisas que só o coração pode entender…” ou do chorinho nordestino…

Em regiões mais recônditas do Brasil, chegaram muitas vezes a questionar-me a nacionalidade, quase num atirando-verde-para-colher-maduro. Peruana? Espanhola? Paraguaiana? Argentina? Francesa? Como se a Portuguesa fosse algo completamente distante da sua realidade ou apenas sobrevivesse no seu imaginário por conta do tal Achamento em século perdido no tempo e no manual escolar.

Outro exemplo caricato. Certo dia, um director da minha associação proferiu, todo ufano, um discurso em região árida do interior do sertão mais profundo. Todos os escutavam entre o embevecido-entusiástico, acenando a cabeça em concordância, sorrindo, batendo vibrantemente palmas. Em uníssono, o pensamento do discursante e dos seus ouvintes. Uma delícia de se observar. Senti, a certo momento, um toque no braço. Um grupo de crianças e adolescentes – todos, com ar polido e brilhante de índio e com olhar de riso e curiosidade dentro – pediam-me: - Moça, você diz prá nóis o qui ele está falando? Nóis não estamos percebendo nadica de nada…

Impressiona-me mais o facto de que a grande mole de brasileiros não nos compreenda, do que propriamente a eterna disputa pela compreensão comum travada com nuestros hermanos peninsulares. Há que porém entender e ser tolerante. Os brasileiros não vêem as telenovelas portuguesas (ou se as vêem, são dobradas) não ouvem fado ou folclore, os seus hábitos de férias não passam por Portugal e na sua grande maioria nunca contemplaram, sequer, um único exemplar da raça lusitana.

Não é o facto de mudarmos o nosso modo de escrever, que vai fazer com que quase 200 milhões de brasileiros nos compreendam melhor. Alargo os horizontes da diáspora lusa. Então e todos os outros povos, que partilham essa História comum? Os angolanos? Os cabo-verdianos? Os são-tomenses? Os guineenses? Os moçambicanos? Os timorenses? Compreender-nos-ão melhor? Incorporaremos igualmente no acordo, consentimentos consentâneos (deixem-me passar a expressão reforçada) com a sua forma de compreender o Português? Será este o mecanismo que forjará mais e melhores elos? Ou um mero despojo fortuito daquilo que nos é mais intrínseco?

Não me canso dos exemplos, para sorrirmos entrementes… Um dia, o meu companheiro atrapalhado (afobado, quiçá) por necessitar em situação de urgência de indumentária mais ataviada para evento imprevisto, entrou num estabelecimento para comprar um fato a preceito. Naturalmente pediu e, convencido que já adequava os jeitos e os trejeitos, à empregada aprimorada: -Moça, por favor, me mostre o fato castanho que está na montra. Ela, perplexa, olhava-o com o seu mais patético ar enquanto exclamava: - Qué? Ele, convencido que a incompreensão passava pelo sotaque, aligeirava, entoando, quase cantando: - Por favor, mostre-me o fato castanho que está exposto na montra. Ao longe, eu não interferia rindo-me à socapa e apreciava a comunicação concretizada com recurso à comunicação universal da linguagem por gestos. E afinal, como poderia a mocinha entendê-lo, não obstante toda a sua natural simpatia e dedicação profissional, se o que ele se desejava não estava descodificado, ou seja, que o terno marron na vitrine era o objecto de necessidade e de desejo do cliente?

No cúmulo, tal qual cereja em cima do bolo da confusão linguístico-cultural que subsiste, comentaram-me certa vez: - Até que a Portuguesinha (eu!) tem um sotaque bacana. E, pasmaram-se – pasme também quem me lê - ao se aperceberem, após a minha cuidada, delicada e diplomática explicação que, na realidade, quem falava português genuíno era eu e que quem possuía o tal sotaque eram eles! É uma questão de perspectiva e, porventura, de escala.

Fora isto, é certo, que gosto do português abrasileirado... [e nem sequer está em causa a amizade e carinho que nutro intensamente por inúmeros amigos de coração… é um português que tem odor a calor, a tropicalidade, a fruta e a praia, a natureza exuberante de matagais e pantanais, a gente alegre, afável e descontraída. Gosto, na justa medida em que é quase assumido e percepcionado como um jogo de palavras, um quase “sub-produto” desta grandiosa linguagem que define a identidade de toda uma nação. Não contesto a sua evolução, nem a sua (des)multiplicação quase ao ritmo da taxa de natalidade do país-irmão. Mas…
mas, discordo que a língua, na sua essência, a tal Língua-Mãe, a tal Progenitora, se desnude da sua roupagem, das suas vestes gramaticais, da sua telúrica identidade e riqueza, resultado de séculos de construção de uma história de palavras, assim o creio, com algum sentido e coerência.

O que está em causa é o próprio sentido do Ser Português! Caramba, que haja evolução, que haja introdução de novas ideias, de conceitos e palavras adequadas aos tempos modernos, que haja apropriação de outras que, inexistentes no nosso vocabulário, lhe possam trazer valor acrescentado. A Língua não é estática, tal como tudo na vida, cresce e evolui. Haja flexibilidade e tolerância. Porém, volto a questionar, o que pretendem com este acordo? Que seja, tão somente, uma involução, uma desconstrução? Também posso inventar palavras a meu contento?

Por fim, ainda a maior causa de perplexidade… o facto de que, a revolução da Nova Língua que nos querem impor, não surgir na sequência de um processo de base, de um bê-a-bá que, naturalmente, se desejaria aplicado nas aprendizagens escolares, num crescendo de adaptação (a ter de existir, que a minha voz não tem voz), num crescendo de adaptação quase à rude laia comparativa de introdução do euro. Não! Surge de um modo quase subversivo, numa imposição subliminar e, por tal, não explícita mas subentendida, num manuseamento não autorizado dos nossos subconscientes, pela maior parte dos órgãos de comunicação social. Uma imposição quase maquiavélica do próprio sistema.

Não! Não é nas escolas que o processo – a começar – começa. E esses, os alunos, os miúdos, algo atarantados sem perceber muito bem como ou onde colocar os acentos (se calhar até satisfeitos por simplesmente passarem a deixar de ter de os colocar) ou se os seus atos ou actos (com ou sem c) de exercício da compreensão do português são praticados com, ou não, conhecimento de causa.


O Português, o Novo, entra pois pelos nossos olhos adentro através das revistas, jornais, na própria Internet. O Novo Português que perde a sua identidade, se descaracteriza e se transforma numa outra coisa qualquer.

E não me venham afirmar que somos um povo complicado, com um idioma complicado, e que, por tal, nos temos obrigatoriamente de simplificar. Que nos temos de aligeirar, de uniformizar perante um mundo que tem como denominador comum o Inglês. Universalizar. Banalizar quiçá.

Graças aos Deuses tenho a pretensão a aprendiz de escritora e tal, quase raiando ou à laia de mera atitude de objecção de consciência, permite-me que eu – sem essa ideia de saudosismo ou fidelidade a costumes caídos em desuso, com que me possam apelidar – mantenha a minha própria coerência e afirmação.


Qualquer dia, ninguém saberá como escrever Português.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O Abraço...

Há dias que tenho palavras dentro de mim a brotar com ligeireza...
outros...
são assim...
não saem as palavras de dentro na mesma proporção do sentimento...

Pela manhã, vindimaste as uvas ávidas de serem colhidas e olhando em redor pressentiste amizade e abraços nas curvas das árvores, que partilhaste...
o abraço surgiu então, saltou ágil da natureza e transformou-se em dádiva de mundos virtuais, mas tão mais reais que tanta realidade tão física e palpável em nosso redor.


Há dias assim, que nos prezam com um som intemporal,
que nos acalentam com conversas em torno de coisa nenhuma,
que nos acarinham com verdes amplexos em elos que cada vez mais se tornam mais consistentes...

Autoria e Agradecimento

Todos os textos e imagens são de autoria de Ana Souto de Matos.

Todos os direitos estão reservados.

São excepção as fotografias do Feto Real e do Cardo que foram cedidas pelo João Viola e 2 imagens captadas na Net sem identificação de autor.