sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O Toque da Borboleta – 2º. momento por Pedro Laranjeira

Maria da Serra Verde,
borboleta em fuga vã,
não persigas a montante
um ontem sem amanhã!
Ruma ao futuro jusante
da vida que se desenha
em cada gota de cor
que nasce na alvorada
transmutada dessa dor,
em cada pequeno nada,
em cada ilusão de céu
que a lua fugaz apanha
por entre nuvens e breu,
e te poisa no olhar
quando sonhas acordada.
O amor não morre nunca,
vive connosco em segredo
e não se compara a nada!
É hora de cavalgar
a onda do teu destino:
vive o futuro sem medo,
que tudo o resto é divino!
Nada muda o que passou,
nem aquilo que te fez…
encontra a paz de viver
com o que a vida ensinou
e recomeça outra vez!
Não custa nada, vais ver,
e do lento sofrimento
serás a metamorfose
duma nova borboleta
em demanda de quimera
onde as asas te adormeçam.
É assim a primavera,
Maria da Serra Verde,
é a vida que renasce
sedenta de novo alento
esfomeada de osmose
em busca de nova meta!
E lá, ao raiar da aurora
verás a desabrochar
um jardim de mil flores
que espera por ti agora!
Mergulha nele, borboleta,
mistura-te ao firmamento
de mil sois a festejar
o berço do nascimento,
da Maria chão de Serra,
porque és verde,
como a terra,
e flor de encantamento!


Tão bonitas, tão especiais estas palavras
e feitas para mim, só para mim!!!
Que privilégio, que encantamento!
Obrigada Pedro e desculpa ter ousado
partilhá-las com os amigos.




sábado, 2 de agosto de 2008

Quase me esquecia como sou uma mulher do mar...



Com tanta serra à frente das minhas janelas, da minha vida de todos os dias,
quase me esquecia como sou uma mulher do mar.

Como nasci junto dele…
quase dentro dele…
ali bem ao lado de casa… num saltitar constante entre areia e lar…
dia após dia sentindo o ar quente, a água quente, a vida quente de África.
Um mar tão sereno, tão morno, transparente, quase translúcido… com búzios de formas perfeitas e areia tão fina, tão branca, tão limpa que quase perfurava os pés…
pés de criança que, teimosamente, tocavam as medusas sedutoras e venenosas…

Quase me esquecia, neste desejo de fincar as raízes no solo, como amo o cheiro da maresia…
os salpicos da espuma a bater no corpo e a refrescar as ideias turvas…
o som das gaivotas que romanticamente torno agradáveis aos sentidos no seu eterno despique com as ondas.
E ao longe, tão longe, o horizonte a fazer perder o olhar e o pensamento!

Quase me esquecia como gosto de estar sentada na areia ou no paredão da praia, sozinha a contemplar e a sentir a natureza fora e dentro de mim…

Aos poucos, o mar vai vazando para o outro lado do mundo…
as rochas vão surgindo…
as pessoas vão desaparecendo do meu espaço e eu
fico sentada a contemplar a praia no seu entardecer tranquilo, sentindo na pele o sol ainda tépido.
Sou feliz agora!

Hoje, deitei-me ao contrário na cama…


Hoje, deitei-me ao contrário na cama…
Olhei o tecto ao contrário do habitual…
As cortinas ao contrário, também…
A janela numa outra posição…
As almofadas lá em baixo, com os pés em cima!
e…
foi como se num ápice neste revirar do sentido das coisas
o meu mundo, ele próprio no seu todo,
se virasse do avesso!

De repente, rodando o ângulo do meu olhar…
todos os sentidos sobre as coisas rodaram também…

enfim, como se nesse gesto simples eu fosse capaz de rodar a própria vida…
capaz de GRANDES feitos –daqueles que enchem o coração, enchem TUDO e, nos fazem sentir gente de verdade-.

Incompreensivelmente, as lágrimas começaram a correr neste meu desvario ao contrário…
entre a utopia e a certeza…
E fiquei a imaginar o passo seguinte…
naquele que faria a diferença na minha vida…naquele preciso passo que lhe daria SENTIDO!

Como virar a vida ao contrário?

Olhei o mundo do meu quarto ao contrário…
olhei para além da luz do candeeiro da mesinha-de-cabeceira…
olhei para além dos livros que lentamente leio ao sabor do meu cansaço quotidiano…
olhei para além da cabeceira singela e recta de madeira cor-de-mel-ou-de-cerejeira (as cerejas não são vermelhas?)…
olhei para além da parede e alcancei…
a única grande e significativa descoberta da noite…

em todo o seu esplendor, bem no centro do tecto do meu mundo
–o meu quarto de dormir!-
uma fenda na pintura alva em toda a sua largura!

E concluí, antes de adormecer cansada de tanta profunda reflexão, que não compensa às vezes mudar o sentido natural das coisas.

Autoria e Agradecimento

Todos os textos e imagens são de autoria de Ana Souto de Matos.

Todos os direitos estão reservados.

São excepção as fotografias do Feto Real e do Cardo que foram cedidas pelo João Viola e 2 imagens captadas na Net sem identificação de autor.