sábado, 14 de março de 2009

Serra verde...

A minha serra, qual donzela de antanho que se resguardava para o seu amado, não se dá, não se desvenda ao primeiro olhar…
vai-se descobrindo num crescendo de envolvimento e encantamento e, só então…
segura de si e de nós,
nos seduz com o seu brilho,
com a sua naturalidade tão genuína.Porém o nosso namoro já é antigo e, a minha serra, desvendou-se hoje mais um pouco para mim e ensinou-me algo nesta arte de aprender a vida e reconhecer a natureza mais pura…
a que mexe com a cabeça, com o coração e com o corpo.
Enlaçou-me com mais aconchego no seu seio… com o seu verde em rebento e a sua água cristalina do degelo.Há catorze anos atrás delineei, com o colega das primeiras aventuras do desenvolvimento, o percurso que hoje calcorreei qual cabrito de montanha…
há catorze anos atrás não se falavam em percursos pedestres e, quem os idealizava e demarcava, era encarado assim como uma espécie de cruzado combatendo ideais em terras alheias.
Há muito, muito tempo que não o percorria.
O trilho neste período de tempo foi melhorado… já tem até uma placa indicando o seu nome e está limpo de ervas mais agrestes. Com início no Coentral –aldeia branca e resplandecente incrustada na vertente sul da minha serra de pedra negra- caminhamos em círculo junto à Ribeira das Quelhas que lhe dá o nome… Porventura, por não ser um circuito tão fácil como os demais… não pela sua extensão mas pelas pedras soltas que dificultam o andar… por pontos que aqui e ali carecem de ligeireza para não molhar o pé e de outros que exigem algum equilíbrio.Hoje, o dia está lindo, quase, quase perfeito…
Estamos em Março mas o calor é intenso e queima-me a ponta do nariz…
a brisa é pontual e suave deixando a pele arrepiada por breves instantes… nada que me impeça de me descalçar e de percorrer a pedra quente e a água fria em intensidades opostas que me dão prazer.
A Primavera desponta nas folhas que brotam em profusão das árvores no seu verde ainda tenro…Conforme vou subindo, as pequenas represas naturais dão lugar a cascatas que vão assumindo um crescendo que me obriga a elevar o olhar.
A urze está em plena floração e cobre as vertentes de roxo intenso…
o musgo apodera-se das pedras húmidas das margens da ribeira...

A meio do caminho, penso nos vários amigos com os quais gostaria de ter partilhado este momento de deslumbramento e que, hoje, não estão aqui.
As tecnologias por estas bandas são obsoletas mas um raro momento de ondas-a-jeito permite-me dar um lamiré das minhas sensações.
Será que é dos meus olhos, questiono-me? Será que sou só eu que vejo e sinto assim?
Não creio…

E por isso, mais do que as minhas palavras...partilho as minhas imagens que expressam por si a magia deste lugar mais dentro…
sei que, tal como eu, se vão deixar seduzir…
porque a minha montanha tem, efectivamente, esse poder!

quinta-feira, 12 de março de 2009

Interrupção...

Põe-se o sol do lado da serra.

Se não existes,
Por que me acordaste?

(do amigo poeta, Joaquim Jorge de Carvalho,
em Inquietação de Barcos)

quarta-feira, 11 de março de 2009

a vida é um lugar estranho...

Às vezes, questiono-me se as pessoas existem…
Parecem que estão e não estão…
ou que não estão e estão… afinal!

Parecem que são e não são…
ou então parecem que não são e afinal!
são…

Parecem que querem e não querem…
ou fazem ares de não quererem e querem…

Estão longe e regressam ou
estão ao lado e distantes…

Nada é claro…
Nada é certo…

É um teatro elaborado -o da vida ou das vidas!
e dos personagens que por ela vagam
e que se entrelaçam
e se atam
e se desatam,
e se volteiam
e rodopiam em torno de significados que não compreendo a maior parte das vezes…

O que nos faz sentir, ou não? O que nos faz ir ou vir por ali ou por aqui?
O que nos aproxima?
E o que nos afasta?
Que peso têm as nossas decisões? Para nós e para os outros?
Que valem?

Que caminhos seguimos ou de quais nos desviamos?
Como os escolhemos? Porque os escolhemos?
Porque nos sentimos impelidos a agir desta ou daquela forma?

O que faz as pessoas estarem tão ocupadas consigo próprias
que se esqueçam de olhar o mundo em volta? E de olhar os outros?
O que faz com as pessoas sejam importantes?
Ou insignificantes?
Ou indiferentes?
O que me faz caminhar em direcção às pessoas?
Porque as elevo?

O que faz acontecer? Como ser diferente do que é?

Às vezes, questiono-me se as pessoas existem…
Existem?
Ou serão meras figuras para compor o espaço entre o ser e o deixar de ser?

A vida é mesmo um lugar estranho que não me canso de questionar.
E que nunca consigo compreender.

segunda-feira, 9 de março de 2009

domingo, 8 de março de 2009

partilho as folhas...

Hoje, tal como ontem e como já começa a ser habitual aos fins-de-semana, fui ao café beber as ideias e as confidências com as amigas e cúmplices da vida... aproveitando também para sorver a cafeína e o sabor dos grãos transformados em líquido fumegante e saboroso.
No café, afoita e ligeira, a mocinha de olho-claro-e-sorriso-pronto ofereceu a cada uma de nós um botão de rosa...
rubro...
vermelho de paixão e simbolismo...
a fazer mágoa aos dias de solidão e a lembrar outros tantos cheios de tudo...

E de repente o porquê? Feliz Dia da Mulher...

Para quê? A lembrar-nos de que somos mulheres? Será preciso?
A recordar-nos de que somos importantes -fundamentais!- para o próprio processo da vida?
Ou então, a sugerir que pertencemos a uma espécie de "segmento-do-vasto-mercado-da-humanidade"?

Uma flor!
Um botão de rosa!

Para quê, afinal?
Para que nos olhem com ar benevolente?
Ou mais incisivo (só hoje!)?
Porventura um olhar um pouco mais interessado?

Uma rosa!
Para nos fazerem - nos fazermos- especiais?
Para nos fazerem- nos fazermos- diferentes?

Não entendo o significado do dia!
Eu sei que sou única!
Eu sei que sou especial!
Não somos todos nós, homens ou mulheres, únicos e especiais na nossa essência?

Não compreendo o significado do dia!
Será que apenas as mulheres reconhecem a importância do seu género? Onde está o esperado reconhecimento de homens, pais, maridos, namorados, companheiros ou meros amigos ou colegas?
Não entendo o significado do dia. Ou, se calhar, apenas não me entendo a mim própria.
Será esta posição apenas amargura por o dia se saldar em mensagens de telemóvel enviadas apenas por outras mulheres?
Ou por um botão de rosa oferecido no café dos fins-de-semana?

partilho as folhas... que fica por compreender o sentido da flor!

sábado, 7 de março de 2009

Great Expectations...

Leio Dickens…
Não sei porquê, apeteceu-me voltar aos clássicos que li em tempos idos de adolescência tardia.
Porventura, numa vã tentativa de compreender os ciclos –os círculos- do pensamento dos homens, que vão e vêm, que são e foram diferentes e tão iguais.
Leio Dickens.
‘Grandes Expectativas’, traduzido mesmo à letra, mas que não tem o mesmo sabor da entoação original.
Expectativas, anseios, esperança…
Formas de estar e sentir -não diria diametralmente opostas ao que sinto no momento- mas certamente tão diferentes.

Há algo de mau, de fraco na natureza humana que por vezes se revela em mim…
Impaciência? Cansaço? Alguma intolerância? Uma ponta de egoísmo, talvez?
Há algo na vida, na própria forma de se viver que me cansa e aborrece.
A monotonia das situações, dos sentimentos, por exemplo… num eterno círculo, que se inicia e termina e se inventa e reinventa ou apenas se copia.


Às vezes, desejaria ser uma pessoa sublime! Mais perfeita!
E no dia-a-dia talvez o tente.
Ou finja que tento!
Falho frequentemente!
No entanto, as expectativas –essas!- são sempre grandes e fartas!

domingo, 1 de março de 2009

Autoria e Agradecimento

Todos os textos e imagens são de autoria de Ana Souto de Matos.

Todos os direitos estão reservados.

São excepção as fotografias do Feto Real e do Cardo que foram cedidas pelo João Viola e 2 imagens captadas na Net sem identificação de autor.