domingo, 31 de maio de 2009

estavas por lá... nos braços do grande amor da tua vida!

Um ano e meio após, regressámos a Ribeira de Pena.

O calor sufocante do dia, absorvia a escassa energia que nos restava para cumprir um momento permanentemente adiado… momento de recordação, de nostalgia, de homenagem.
A emoção dominou-nos e percorremos –devagar- os instantes e os lugares onde fomos felizes.
Recordámos, principalmente, as últimas férias desse Verão que, de repente, já nos parece perdido no tempo… o afã de pôr bonita a “grande dama” para nos receber, conferindo-lhe embora toscamente algum do brilho de outrora no tempo da avó banoresa, quando a Casa regurgitava de esplendor e de vida… vida dos campos profusos, enleada com os toques senhoris da aristocracia rural... recordámos a felicidade desses nossos dias, não sabendo que seriam os últimos contigo a nosso lado.

Andámos por ali… cheirando a frescura quase mágica do jardim das japoneiras, encantados com as florzitas singelas e de cores vibrantes, ouvindo o som da água a cair no tanque dos girinos, caminhando no terreiro sob a sombra das cameleiras seculares e circundando a Casa, testemunha serena das nossas próprias recordações. A criança isolou-se e percorreu o espaço… sentidamente chorou, sentada nas velhas pedras do murete. Revivendo outros dias, outros momentos, saltitou por debaixo da nogueira, subiu as escadas do fundo, pendurou-se nos ramos das árvores. Quanto a mim, recordei-te e tornei-te próximo.
Senti, mais do que nunca, a falta da tua presença e da tua serena e infindável sabedoria que me sabia tranquilizar as minhas permanentes dúvidas sobre a vida, sobre as pessoas, sobre os sentimentos.
Imaginei-te por ali… finalmente feliz, enredado nos braços do primeiro e único grande amor da tua vida, Santa Marinha, pensando que quem não te soube compreender e aceitar esse amor, nunca te conheceu o âmago!-
Questionei-te sobre mim, sobre o que pensar, sobre o que fazer, sobre como continuar o caminho. Coloquei-te os meus sonhos e os meus anseios. Pedi-te que me ajudasses, como sempre, a perceber-me.
Disse-te que não conseguia sentir tantas emoções de uma só vez, que não as sabia orientar. Mais uma vez, imaginei o teu sorriso paternal e complacente e o que, com toda a certeza, me dirias… que encontraria todas as respostas dentro de mim...que conseguiria ir mais-além e, simplesmente, Ser!… acrescentarias, que era a mulher mais perfeita que conhecias –e eu fingindo acreditar, para te agradar! como se não me conhecesse por dentro e por fora e soubesse do que “a casa gasta” como diz por aí o povo-.
Andámos por ali, o calor atormentando a pele, dificultando o andar, o respirar…
A saudade -que contrasenso!- a dizer para nos irmos embora depressa, depressa… e a criança a andar sozinha sem querer amparo, revivendo e criando, à sua maneira, defesas para o futuro.
Também eu aprendi a amar Santa Marinha.
Sei que estás lá e que por lá ficarás para sempre, feliz!
Não sei se alguma vez mais regressarei.

terça-feira, 26 de maio de 2009

um beijo no alto da serra...


hoje, recebi, um beijo
-virtual, confesso!-
mas mesmo assim, um beijo!
"um beijo no alto da serra"
senti-o...
depositado na minha testa...
tocando ainda os cabelos!
acreditem!
foi o melhor do meu dia...

domingo, 24 de maio de 2009

asas...

No Sábado, em Peniche, descobri que os projectos de vida - mesmo aqueles que imaginamos basilares, fulcrais, estruturais- por vezes, também têm prazo de validade.
Que os nossos ideais se transformam e, de quando em vez, também se esbatem.
Para onde foi o espírito de entrega e de luta de outrora?
No Sábado, em Peniche, os tambores não rufaram... nem as pessoas sorriram ou se entusiasmaram...O tempo invernoso numa primavera tímida não ajudou. A conjuntura ainda menos. Marquei presença num evento para me cumprir e me justificar de que ainda defendo um propósito... por quanto tempo?
Valeu-me a Declaração formulada que manifesta a esperança em novas posturas.
Valeram-me, ainda, as falésias e a amizade...
Valeram-me os pescadores e as nuvens pesadas de chuva a esfriar o calor de dentro...
Valeram-me as enseadas de águas transparentes e a aparente fragilidade das flores...
e a ilha no meu horizonte
e o mar... sempre o mar...
a altivez das gaivotas e
as suas asas
onde os meus sonhos se embalaram...

Linha de Vida (13)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Nuvens...

as palavras de Jorge de Sousa Braga...

«Sinto-me como se vivesse dentro de uma nuvem. Branca. Fecho os olhos e deixo-me arrastar. Pelo vento.

É imprevisível o destino de uma nuvem. Pode dar várias vezes a volta ao globo. Ou desfazer-se de encontro à montanha mais próxima. Mas isso em nada parece afectá-las. Afectar-me.

Vivo dentro de uma nuvem. Cujo destino é vaguear. E cujos limites é não haver limites.»

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Diário de Viagem (4)... a Eira do Serrado...

A 1053 metros de altitude, mais ou menos no centro da Madeira, a Eira do Serrado, miradouro sobre a antiga cratera do vulcão que formou a ilha. Em fim de tarde, entre as névoas e os raios de sol, um esplendor para os sentidos...

Diário de Viagem (3)...O Principado do Ilhéu da Pontinha...

Tenho dupla nacionalidade desde o passado dia 15 de Maio de 2009.

Ou seja, para além de Portuguesa com naturalidade Moçambicana, sou Fortense!
O que para conhecimento de todos significa que sou a centésima trigésima quinta cidadã honorária do Principado do Ilhéu da Pontinha, o menor dos territórios independentes existentes à face de todo o globo terrestre.

Dom Renato I, Príncipe do Ilhéu da Pontinha, é um homem de convicções e, nem a diminuta dimensão dos seus domínios com Carta firmada por Dom Carlos I e devidamente registada na Conservatória local, o impede de colocar em polvorosa o Governo Regional da Madeira com as suas atitudes de proprietário de parte do porto do Funchal.

Ainda não se tinham passado dez minutos sobre a minha ascensão a Lady e, eis que ousei afirmar perante Vossa Senhoria, que o meu simples apartamento competia e ganhava com quase o dobro da vantagem aos cento e setenta metros quadrados do Principado. E, não fora o meu pronto e farto sorriso, tão honorífico título me seria de imediato confiscado. Porém, tive o prazer de constatar que a benevolência de Dom Renato I, professor de artes visuais e tecnológicas no liceu do Funchal, é inexcedível. Por tal, portadora de documento com assinatura e selo branco do Principado, eis que assumi tal estatuto, brindando o momento com salamaleque e vénia.

Brincamos com a situação, mas a verdade é que o espaço é, efectivamente, um território independente da Madeira, o qual carece de uma Constituição e não tem de todo qualquer autonomia, nem tal teria qualquer lógica. Mas serve para interferir com susceptibilidades e até criar alguns incómodos o que parece ser o principal propósito, até porque a ter reconhecimento internacional, o Principado terá direito a 200 milhas marítimas.

Conta a história que foi neste Forte de São José que em 1419 os descobridores da Ilha da Madeira, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz se refugiaram, sendo possivelmente a primeira construção da Ilha. O seu interior ainda não é totalmente conhecido. Existem escadas e túneis que ainda não se sabem onde desembocam e do alto do torreão, transformado em miradouro, é possível contemplar, encravada no mar, a pedra triangular onde se amarravam as embarcações. No seu interior, foram entretanto encontradas diversas ossadas, o “kit completo” como afirma o proprietário do espaço.
Se se trata de uma insanidade, de uma brincadeira, de um sonho, de um ideal ou apenas de uma atitude de inconformismo, cada um tomará a sua posição.

Com um sorriso nos lábios assumi o meu estatuto de Fortense, admirando a coragem de Renato Barros em persistir com a sua ideia perante todos. E é ainda com mais outro sorriso plantado no rosto que divulgo o Principado do Ilhéu da Pontinha –apenas e quase um alfinete espetado a setenta metros da Ilha da Madeira- como um ponto incontornável nos nossos périplos insulares.
Para saber um pouco mais:
o site oficial
http://www.fortesaojose.com/
o filme no Jornal da Noite
http://videos.sapo.pt/8Fr7DjaGy9KpKz0yeJjn

Diário de Viagem (2) …O Descobridor das Américas…

A história é, no mínimo, polémica.
São incontáveis as teorias e as teses, os estudos, os livros, os romances mais ou menos elaborados, os filmes… Envolve muitos séculos de segredos e mistérios… muitas histórias, dentro da sua própria história… muitas crendices, muitas fés, muitos ideais.
Que Cristóvão –Colombo ou Colon- descobriu as Américas em 1492 (acostando a um ilhéu das Bahamas, o qual foi baptizado como São Salvador), aos homens de hoje não restam quaisquer dúvidas. Isso é certo, tal como é certo que a descobriu a bordo das caravelas Pinta e Niña e da nau Santa Maria… embarcações de outrora, resistentes aos mares e aos “adamastores”, mas que hoje mais não parecem que pequenas “cascas de nozes”, tal a sua fragilidade perante outros navios mais possantes do porto do Funchal (e, mesmo assim, é evidente que falo de uma réplica, já de si munida de outras artes de marear).
Venho à Madeira na tentativa de apurar a nacionalidade desse, indubitavelmente, grande navegador e de desvendar os meandros dessa história de espionagem à moda do século XV que, segundo historiadores e estudiosos dessa época, constitui o maior embuste de todos os tempos.
A bordo desta simulação do Santa Maria é quase demasiado fácil acreditar no que quer que seja… o mar e o sol batem-me na fronte, no colo e nos braços e deixam-me a pele tisnada.
O horizonte perde-se no mar alto, a bombordo do meu olhar, fazendo-me pensar em como se aventuravam os homens de outrora a caminho do nada… só água à sua frente… um mês… dois meses… três meses…
À saída do porto do Funchal, o sino toca anunciando a partida e, não fora a embarcação cheia de ávidos turistas, quase me sentia marinheira à descoberta de novos mundos.
Estes, não me deixam esquecer que apenas navego junto à costa…

No Santa Maria de Colombo, existem résteas de cebolas e de alhos dependuradas no convés, assim como chouriços, presunto e bacalhaus secos, um caldeirão de três pernas para a confecção da sopa, a cabine do capitão, as araras, o cão que por ali deambula.
Temos de estar com atenção aos cabos e ai de quem se lhes refira enquanto cordas (cordas apenas três a bordo: a do relógio, a do sino e “acorda que vem aí o comandante!”)…

Apesar da modernice do motor potente, a nau navega à vela e, no regresso, estas são desfraldadas –a cruz portuguesa orgulhosamente enfunada- permitindo-nos sentir a tranquila e relaxante velocidade de 3,3 nós (cerca de 6 a 7 quilómetros à hora).

O Capitão e os marinheiros estão trajados à época (exceptuando os óculos de sol que me fazem sorrir perante a modernidade) e levam a sério o seu papel de se fingirem à descoberta de novos mundos… estão descalços e sobem ágeis ao cesto da gávea.
Vislumbro o Cabo Girão pelo lado do mar… é realmente impressionante a altura a pique deste promontório e apesar de apenas uma curta viagem de três horas, a sensação de que descubro novos horizontes deixa-me a alma cheia, quase me abstraindo do linguajar que me circunda.
De regresso ao porto, os canhões troam junto ao Forte de São José e no torreão a bandeira do Principado do Ilhéu da Pontinha está desfraldada. Junto a esta, o Príncipe diz-nos adeus com os braços no ar e está quase a dar-se início a uma pequena cerimónia…
mas esta é já outra história… até já! Para saber um pouco mais:

Autoria e Agradecimento

Todos os textos e imagens são de autoria de Ana Souto de Matos.

Todos os direitos estão reservados.

São excepção as fotografias do Feto Real e do Cardo que foram cedidas pelo João Viola e 2 imagens captadas na Net sem identificação de autor.