A história é, no mínimo, polémica.
São incontáveis as teorias e as teses, os estudos, os livros, os romances mais ou menos elaborados, os filmes… Envolve muitos séculos de segredos e mistérios… muitas histórias, dentro da sua própria história… muitas crendices, muitas fés, muitos ideais.
Que Cristóvão –Colombo ou Colon- descobriu as Américas em 1492 (acostando a um ilhéu das Bahamas, o qual foi baptizado como São Salvador), aos homens de hoje não restam quaisquer dúvidas. Isso é certo, tal como é certo que a descobriu a bordo das caravelas Pinta e Niña e da nau Santa Maria… embarcações de outrora, resistentes aos mares e aos “adamastores”, mas que hoje mais não parecem que pequenas “cascas de nozes”, tal a sua fragilidade perante outros navios mais possantes do porto do Funchal (e, mesmo assim, é evidente que falo de uma réplica, já de si munida de outras artes de marear).
Venho à Madeira na tentativa de apurar a nacionalidade desse, indubitavelmente, grande navegador e de desvendar os meandros dessa história de espionagem à moda do século XV que, segundo historiadores e estudiosos dessa época, constitui o maior embuste de todos os tempos.
A bordo desta simulação do Santa Maria é quase demasiado fácil acreditar no que quer que seja… o mar e o sol batem-me na fronte, no colo e nos braços e deixam-me a pele tisnada.
O horizonte perde-se no mar alto, a bombordo do meu olhar, fazendo-me pensar em como se aventuravam os homens de outrora a caminho do nada… só água à sua frente… um mês… dois meses… três meses…
À saída do porto do Funchal, o sino toca anunciando a partida e, não fora a embarcação cheia de ávidos turistas, quase me sentia marinheira à descoberta de novos mundos.
Estes, não me deixam esquecer que apenas navego junto à costa…
No Santa Maria de Colombo, existem résteas de cebolas e de alhos dependuradas no convés, assim como chouriços, presunto e bacalhaus secos, um caldeirão de três pernas para a confecção da sopa, a cabine do capitão, as araras, o cão que por ali deambula.
Temos de estar com atenção aos cabos e ai de quem se lhes refira enquanto cordas (cordas apenas três a bordo: a do relógio, a do sino e “acorda que vem aí o comandante!”)…
Apesar da modernice do motor potente, a nau navega à vela e, no regresso, estas são desfraldadas –a cruz portuguesa orgulhosamente enfunada- permitindo-nos sentir a tranquila e relaxante velocidade de 3,3 nós (cerca de 6 a 7 quilómetros à hora).
O Capitão e os marinheiros estão trajados à época (exceptuando os óculos de sol que me fazem sorrir perante a modernidade) e levam a sério o seu papel de se fingirem à descoberta de novos mundos… estão descalços e sobem ágeis ao cesto da gávea.
Vislumbro o Cabo Girão pelo lado do mar… é realmente impressionante a altura a pique deste promontório e apesar de apenas uma curta viagem de três horas, a sensação de que descubro novos horizontes deixa-me a alma cheia, quase me abstraindo do linguajar que me circunda.
De regresso ao porto, os canhões troam junto ao Forte de São José e no torreão a bandeira do Principado do Ilhéu da Pontinha está desfraldada. Junto a esta, o Príncipe diz-nos adeus com os braços no ar e está quase a dar-se início a uma pequena cerimónia…
mas esta é já outra história… até já! Para saber um pouco mais:
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