domingo, 28 de fevereiro de 2016

antecipando a Primavera... em dias de invernia









Benditos aqueles que nada sonham....

Sei lá que dizer, que pedir, que fazer, que ousar, que retribuir, que amansar, que explodir de ideias que podem ser pertinentes ou impertinentes consoante a perspectiva,a escala, a intensidade, os valores do aparelhómetro que se utilize para avaliar estas coisas que não têm expressão corrente, medidas em tabelas com referências-padrão bem sistematizadas e definidas. 

Sei lá que pensar, que querer, que sonhar, que criar, que ver, que sentir de sentimentos que podem ser coloridos ou descoloridos, ricos ou pobres de quês, quando a medida certa é nenhuma ou melhor a medida certa é a medida de cada um, de cada ser que envolve os dias e que considera ter em si a verdade inabalável. 

Sei lá em que meditar, em que acreditar, o que desejar quando o certo é o incerto e o incerto é o risco da decisão e a escolha nos deixa sempre um sabor a que podia ser de outro modo. E o risco, que  é tão ténue, o do horizonte, o da vida, leia-se. 

Benditos os que nada sonham, pois os dias lhes decorrem mais sólidos, sem fragilidades de quereres-mais-além, sem iniciativas de colorir o sol, aceitando a névoa ou o denso nevoeiro, a chuva ou o vento e frio gélido, o calor ou a brisa cálida. 

Há mistérios insondáveis em mim e nos outros neste não-conhecer-o-cerne-mais-profundo-de-si-próprio-e-do-próximo. Há coisas sublimes e há coisas estranhas. Há choques que nos confrontam e abalam, que nos aprofundam o saber, que nos afundam a alegria, que nos enaltecem o vigor, que nos descodificam,  que nos quebram, que nos harmonizam.

Sim, benditos os que nada sonham, os que cumprem apenas os dias, vivendo-os na magnífica simplicidade de não se manifestarem e revoltarem no próprio âmago, de não entranharem ideias de nuvens e de éter, de água, flutuação ou naufrágio, de fogo e ardor, de terra e raiz. 

Sei lá que dizer, que pensar, que sentir…sei-lá-que-mais. Deveria ser, sei- lá-que-menos? 

(divagações cosi cosi)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

A PROMESSA...

Ainda resguardadas do frio intenso 
aos meus olhos surgem
-aqui e ali-
promessas de Primavera!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O SONHO...

Ela olhou para a Amiga com uma quase-pena que não sabia dissimular na expressão preocupada e, carinhosamente, entre afagos e palavras, afirmou-lhe a Amizade:
-Mas és tão bonita, Lídia. Uma pessoa que todos adoram pela forma de estar e de ser, pelo sorriso, pela ternura. Todos te apreciam ou admiram como Pessoa.

Lídia contemplava um ponto distante, olhos e mente embaciadas, titubeando:
-Pois, apreciam como Pessoa! Mas, eu sou uma Mulher também. Normalíssima nas necessidades e sentimentos, no desejo de amor, ternura, companhia. Ninguém me aprecia como Mulher. Nunca ninguém me afirmou: Amo-te! ou, és a Mulher da minha Vida! ou, preciso de ti para ser feliz! Estás a ver? Coisas dessas, quer fossem sérias ou meras lamechices, balelas, seja o que for, nunca ninguém me dedicou essas palavras uma só vez na vida.

E, Lídia, continuou num sopro:
-Sabes qual é o meu maior Sonho, Maria? Não te rias. Ficarei infeliz se sentires compaixão perante um sonho tão insignificante.

Ela abanou a cabeça numa espécie de não-me-rio-de-ti.

-Sabes qual é o meu maior sonho? –prosseguiu- Um dia... um dia, alguém chegar à minha vida e, simplesmente, gostar de mim (reparaste que não utilizei a frase: e, simplesmente, amar-me? Sou pouco ambiciosa. Quando se carece muito qualquer sentimento é grande o suficiente). Que alguém chegue à minha vida e que goste de mim e que me leve a ver o mar. Nesse aspecto, sou mais exigente –sorriu- não é um mar qualquer. É o meu mar de Inverno, aquele que bate arrojado e impetuoso nas rochas de maré-alta da Figueira da Foz. O mar afoito tranquiliza-me. Alguém que goste um pouco de mim, me leve até ao mar, me dê a mão e a aperte com carinho e caminhe comigo de mão-dada pelo passeio até perto do Cabo Mondego. São alguns quilómetros, mas devagar é reconfortante o passeio. Já o percorri várias vezes sozinha, sempre sozinha, com o vento a revolver-me o cabelo e a arrepiar-me a pele. Nessas alturas observo quem passa, não com inveja, mas com tristeza de um futuro inexistente. Como são felizes os casais que passeiam de mão dada! No meu sonho, sentamo-nos no paredão ao fim da avenida e ficamos ali, em silêncio, a compreender a natureza à nossa frente e a nossa própria. Em silêncio, daquele onde cabe toda a compreensão. Ficamos por ali, até perder noção do tempo e até este se transformar em eternidade. Abraçados apenas, nós e o mar em círculo fechado do mundo lá fora. Finalmente, regressamos devagar ao carro.

-É este o meu Sonho –repetiu- Só isto! Nunca o cumpri! Nunca tive alguém que o cumprisse comigo. É tudo. Tão simples? Não, um sonho tão inalcançável que é quase uma utopia.

Maria não soube o que dizer. A simplicidade daquele sonho, comovia-a. Tão insignificante em conteúdo. Afirmava-lhe que não mas Sim, tinha quase-pena da Amiga. Conhecia os seus dias, a sua vida, a sua história. Tantos dramas e tensões, espinhos e dificuldades. Um sonho assim era quase como não pedir nada, num acto de humildade extrema perante a vida.

Um assalto emocional...

 Li por aí esta frase banal…
SOFRI UM ASSALTO EMOCIONAL

Sinto-a, como certa e adequada. 
Toca-me o ter ocorrido por acaso. Tanto a sua leitura quanto a dimensão do seu significado, neste frémito constante que me altera os compassos arteriais.

Sofri um assalto emocional…
Não atinjo, contudo, a sua compreensão.
Não percebo a sua definição ou o seu porquê.

-Sentes tudo -assim e tanto- porque és uma mulher extremamente sensível, afirmam-me e, essa sensibilidade, atinge-me com toda a carga e impacto de estigma que comporta.

Penso -ainda mais um pouco- sobre este assalto.
Será que é do nosso inconsciente deixarmos as portas abertas ou as janelas ou seja lá o que for …qualquer metáfora serve, poros, por exemplo, na mente e na pele? 
Será que quando mais nos sentimos desprotegidos de ideias, de sonhos e de afectos, mais vulneráveis ficamos a inesperados?

Nesses momentos, tão despojados estremecemos então, perante o súbito daquilo que nos faz sentir Gente. E, num rompante, pressentimos qualquer coisa cá-dentro, inquietação que nasce ou tão somente mexe.


De novo vivos ou, talvez e apenas, vislumbrando assomos de vida, porventura certos de que a Natureza se vai cumprindo.

Autoria e Agradecimento

Todos os textos e imagens são de autoria de Ana Souto de Matos.

Todos os direitos estão reservados.

São excepção as fotografias do Feto Real e do Cardo que foram cedidas pelo João Viola e 2 imagens captadas na Net sem identificação de autor.