A minha serra, qual donzela de antanho que se resguardava para o seu amado, não se dá, não se desvenda ao primeiro olhar…
vai-se descobrindo num crescendo de envolvimento e encantamento e, só então…
segura de si e de nós,
nos seduz com o seu brilho,
com a sua naturalidade tão genuína.Porém o nosso namoro já é antigo e, a minha serra, desvendou-se hoje mais um pouco para mim e ensinou-me algo nesta arte de aprender a vida e reconhecer a natureza mais pura…
a que mexe com a cabeça, com o coração e com o corpo.
Enlaçou-me com mais aconchego no seu seio… com o seu verde em rebento e a sua água cristalina do degelo.Há catorze anos atrás delineei, com o colega das primeiras aventuras do desenvolvimento, o percurso que hoje calcorreei qual cabrito de montanha…
há catorze anos atrás não se falavam em percursos pedestres e, quem os idealizava e demarcava, era encarado assim como uma espécie de cruzado combatendo ideais em terras alheias.
Há muito, muito tempo que não o percorria.
O trilho neste período de tempo foi melhorado… já tem até uma placa indicando o seu nome e está limpo de ervas mais agrestes. Com início no Coentral –aldeia branca e resplandecente incrustada na vertente sul da minha serra de pedra negra- caminhamos em círculo junto à Ribeira das Quelhas que lhe dá o nome… Porventura, por não ser um circuito tão fácil como os demais… não pela sua extensão mas pelas pedras soltas que dificultam o andar… por pontos que aqui e ali carecem de ligeireza para não molhar o pé e de outros que exigem algum equilíbrio.Hoje, o dia está lindo, quase, quase perfeito…
Estamos em Março mas o calor é intenso e queima-me a ponta do nariz…
a brisa é pontual e suave deixando a pele arrepiada por breves instantes… nada que me impeça de me descalçar e de percorrer a pedra quente e a água fria em intensidades opostas que me dão prazer.
A Primavera desponta nas folhas que brotam em profusão das árvores no seu verde ainda tenro…Conforme vou subindo, as pequenas represas naturais dão lugar a cascatas que vão assumindo um crescendo que me obriga a elevar o olhar.
A urze está em plena floração e cobre as vertentes de roxo intenso…
o musgo apodera-se das pedras húmidas das margens da ribeira...
A meio do caminho, penso nos vários amigos com os quais gostaria de ter partilhado este momento de deslumbramento e que, hoje, não estão aqui.
As tecnologias por estas bandas são obsoletas mas um raro momento de ondas-a-jeito permite-me dar um lamiré das minhas sensações.
Será que é dos meus olhos, questiono-me? Será que sou só eu que vejo e sinto assim?
Não creio…
Não creio…
E por isso, mais do que as minhas palavras...partilho as minhas imagens que expressam por si a magia deste lugar mais dentro…
sei que, tal como eu, se vão deixar seduzir…
porque a minha montanha tem, efectivamente, esse poder!
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