É impressionante como vivemos e revivemos e voltamos a viver os dias, uns após os outros, tão absolutamente diferentes, tão absolutamente iguais e como a nossa apreensão sobre esses mesmos dias é também ela tão absolutamente diferente e absolutamente tão igual.
É impressionante como sentimos num determinado momento o mais profundo e telúrico sentimento por algo ou alguém e esse sentimento se assumir como o mais fundamental aos dias e ser profunda verdade, incontestada perante nós e incontestável perante os outros e como em noutro momento voltamos a sentir algo parecido, mas tão-outra-coisa, tão mais verdade ainda.
É impressionante como perante a natureza cíclica, nos encantamos sempre do mesmo modo, com uns oh e uns ah de profunda fascinação perante o adejar das folhas ou das borboletas, o saltitar da água translúcida e gélida sobre as pedras do seu leito, as gotas da chuva pousada nas folhas amarelecidas e ao mesmo tempo esse encantamento tanto diferir de tantos outros que já se tiveram antes, em outras Primaveras, em outros Outonos e como esse olhar se transmuta a cada estação e é sempre mais real e autêntico.
É impressionante como aprimoramos a nossa forma de ser e de estar, com o exercício de todos os dias, com a repetição de ideias e actos, pensamentos e atitudes, uns sempre iguais aos anteriores e apesar de tudo cada qual único e irrepetível, desigual dos demais por sua própria natureza. E como esse aperfeiçoamento é sempre incompleto e imperfeito e com espaço em si para mais esmero.
É impressionante que no meio de tudo, dessa nossa vida igual em si própria e tão diversa simultaneamente, ainda haja espaço para a surpresa com que esta nos contempla de vez em quando. Sobretudo quando menos esperamos e quando pensamos que nada mais irá acontecer. De diferente!
É impressionante como no meio de tanta ocasião idêntica, haja ocasiões que ainda nos marquem. Como ainda persista a inquietação, o desassossego. E como ainda no meio de tanta coisa, facto, momento, acto, circunstância e instante igual, parecido ou idêntico, subsista ainda o alvoroço, se sinta a vibração no sangue ou no pensamento e o nervoso da novidade.
É impressionante como apesar do peso da rotina do quotidiano somos sempre surpreendidos pela Vida, essa mesma tão igual a si própria.
E ainda por fim, é impressionante como apesar de tudo somos sempre uns absolutos iniciados, uns verdadeiros principiantes na forma como a compreendemos!
E é sempre a primeira vez!
E é sempre o primeiro olhar!
E é sempre um novo dia!
E é sempre boa nova!
E é sempre a primeira vez!
E é sempre o primeiro olhar!
E é sempre um novo dia!
E é sempre boa nova!
(inspirações:
Absolute Beginners - David Bowie
Projecto artístico - CCB - Lisboa)
Projecto artístico - CCB - Lisboa)
gostei muito do que li: iniciei perdido na imagem que postaste e concluí com um "amen" na forma de um "ainda bem que assim é"
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