sábado, 9 de agosto de 2014

...as máscaras de todos os dias ...


(o texto completo, como mero registo, muito tempo após o ter aparado
e transformado em algo higiénico sem mágoa para quem o lesse...
torna-se agora inócuo)
hoje por acaso, deu à luz de novo...ou sem acaso... sabe-se lá!!!
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A vida é tão escassa, não é?
A mim, pelo menos, parece-me...
que as pessoas são escassas… tão pouco na sua essência… 
tão pouco, que quase não existem.
Ou, se calhar, apenas não existem para nós.
Ou não querem existir.
Ou nem sequer se dão ao trabalho de compreender a sua e a nossa existência.

- Olá, estás bem? Tudo bem!

- E contigo, como andas?
- Tudo bem, também. Vai-se andando…

Fala-se de nada, oculta-se o que se sente, o que se pensa.


Há medo de entregas, mesmo das entregas menores e quase casuais...

daquelas que são essenciais para transformar o banal em qualquer coisa que seja.
Há medo palpável dos outros. 
Será que nos vão magoar? 
Por que querem saber de nós? 
Mera curiosidade? 
Interesse real pela pessoa que somos?

Em caso de dúvida, permanece-se no mesmo ponto. 

Assim, não se correm riscos, não há sustos. 
Não existe medo pela abertura, não persiste mágoa ou receio pela incompreensão. A solidão interior.Tudo é mais tranquilo, seguro, talvez!

- Esta é minha amiga, aquele meu amigo…

Tantos amigos que temos! E ainda, mais o outro com que se sai e se bebe um copo e se fala de uma noticiazeca sem interesse, ou do tempo que é sempre assunto neutro, ou do gajinho giro ou miúda boa que passou à beira, ou dos copos que se beberam até às tantas… 
Temos dúzias de amigos e estamos sós. 
Fala-se e não se diz nada e não se sente nada e ficamos com o vazio cá dentro a avolumar-se. Ou se até sentimos, não devemos sentir, porque nunca é na justa medida da compreensão alheia.

De que interessa saber para que lado corre a brisa? Ou se hoje estamos tristes ou alegres? E sobre os 'por quês'? Ninguém quer saber dos 'porquês'. Que interessam? Aborrecimentos dos outros? Bastam-nos os nossos. Ou então, ao invés, guardamos os nossos 'porquês' a sete chaves, porque são nossos e pronto!


Querem-se pessoas com vidas fáceis, higiénicas, sem dores ou amarguras-tipo-de-TV’s-sensacionalistas. Ou então, vidas plenas de poderes, de beleza ou de glamour. Isso sim. Haja com fartura, brilho que ofusque mágoas. Gente que viva, sem questões.


Qualquer dia prefiro a natureza às pessoas. Essa nunca me defrauda quando me entrego. O pássaro canta sempre, o sol nasce sempre, a folha cresce sempre, o rio corre sempre no seu leito. E eu, sinto! que é só para mim.


Quanto às pessoas, nunca estão para nós. Encasuladas em si próprias, mostrando apenas e somente a superfície polida de todos os dias. Apertadas nos seus medos, como se nós também não tivéssemos medos. Enfiadas nas suas desconfianças, como se nós, ao mostrarmos as nossas fragilidades não manifestássemos prova de confiança.


E toda a gente vive assim. Sem questionar. Sem achocalhar. Nas suas cápsulas -sem questões ou resguardando as suas questões - mas felizes. 

Porque, meus senhores e minhas senhoras, a verdadeira felicidade afinal é isso mesmo.
Como tenho andado enganada!
A felicidade é saber viver a vida sem questionar a própria vida.


uma Tela deMATOS
Máscaras...


quando a Natureza se transforma numa tela...



















porque apenas na extrema complexidade da Natureza encontro A Simplicidade....

Autoria e Agradecimento

Todos os textos e imagens são de autoria de Ana Souto de Matos.

Todos os direitos estão reservados.

São excepção as fotografias do Feto Real e do Cardo que foram cedidas pelo João Viola e 2 imagens captadas na Net sem identificação de autor.