domingo, 30 de abril de 2023

QUASE-RIOS


Estou febril.

Sinto-me febril.
Reconheço bem esse estado, não propriamente rotineiro mas suficientemente habitual para o topar de ginjeira e lhe perceber as manhas.

Febril de temperatura, que me deixa a pele inusitadamente fresca embora eu lhe (pres)sinta arrepios, assanhada em picos de poros e pelos.

Febril de ideias que me sacolejam a mente, a perturbam ao limite da sanidade e a estimulam em córregos fluentes. Ideias que, soltas, correm pelos imaginários regatos de pensamentos, quase-rios, deixando-me as veias a arder com a sua revolta agitação.

Há dias em que pensar me cansa, assim como sentir me cansa, também. Enfim, é a própria vida que me cansa e desgasta. Cansa-me a vida e cansa-me esta febre… uma febre de sentidos intensos e fartos e de enrodilhados vazios, que me deixam em perplexidade de não saber se estou completamente cheia de nada ou completamente oca de tudo…

Estou febril. 

Sei isso!
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(reavendo palavras de 2011)

Autoria e Agradecimento

Todos os textos e imagens são de autoria de Ana Souto de Matos.

Todos os direitos estão reservados.

São excepção as fotografias do Feto Real e do Cardo que foram cedidas pelo João Viola e 2 imagens captadas na Net sem identificação de autor.