A imprudência de deixar o coração à solta, por si, sem freio que lhe contenha a impulsividade.
Não se deve sentir demais.
Não se deve ter ideias, necessidades, sonhos.
Não se deve deixar que a alegria dos momentos nos confunda.
É quase imoral deixarmo-nos levar pelo que imaginamos poderem ser ou vir a ser caminhos suaves.
Não existe suavidade. Só a regra dos dias, um após o outro.
Domemos o pensamento. Sejamos racionais.
Amputemos emoções que se soltam sem nexo.
Deixemos morrer à mingua de água, as sementes que lançámos à terra. Não as alimentemos. Não lhe confiramos sentidos que não existem. Porque nada tem sentido. Porque nada é válido. Apenas momentos que se vivem sem que, na verdade, lhe queiramos conferir significados. Apenas momentos que se usufruem para colmatar vazios e cumprir o espaço de vida.
Não, não sejamos imprudentes. A imprudência cria mágoa, ou mágoas, mais do que uma e em departamentos diversos de nós. E nós estamos tão fartos de mágoas que já não ousamos querer o que quer que seja para além da banalidade dos dias.
Já não ousamos ser de forma diferente. Perdemos essa capacidade. E, quando irreflectida e precipitadamente, ainda temos essa veleidade, criamos arrependimentos em nós que transformam num ápice esse ‘que quer que seja’ em algo difuso.
Não há caminho que desejemos percorrer, apenas espaços que pretendemos preencher e ocupar, porque há uma vida que tem de ser vivida obrigatoriamente, sem volta a dar.
A insensatez da emoção tem de ser vergada. Que sentido tem o sentido do que se sente?
Não, não criemos ilusões.
Nada É!
Nunca!
Voltemos à fórmula dos dias em nós. Só em nós. Só dentro de nós. Basta que nos defraudemos sozinhos. Não metamos mais ninguém ao barulho silencioso ou ao silêncio ensurdecedor daquilo que somos cá dentro. Constranjamos a intranquilidade do ser, à cerca formada pela pele.
E, fiquemos quietos. Que não existam interferências. Não existindo, contamos connosco, só connosco cá dentro, em dias que podem ser cheios ou insípidos mas apenas definidos à luz daquilo que somos.
Para quê mais? Cumpram-se os dias. A vida é um mero ciclo de noites e de dias. Só isso!
Apesar do que afirmamos recorrentemente em frases que se banalizam. Frases daquelas em que afirmamos numa ousadia insensata, desejar a felicidade e a definimos como algo transcendente e único, que inventamos ou fingimos até, a sua busca num afã incessante de formigas em corropio.
Será que é demais pedir um pouco mais da vida? Só um pouco mais, para variar?
Que contra senso, não é? Entre a afirmação convicta e a vida sem convicção.
Depois de tudo, sabem que mais? Está sol!
Essa, a única certeza que é mesmo, mas mesmo, muito feliz!
em "qualquer-coisa-de-quê!"