fotografia: Folk
Recordo-me que, na minha infância africana, uma das brincadeiras que jogava nos intervalos da escola –naqueles tempos em que brincar era ainda uma realidade presente e desejada em todo e qualquer momento livre- era o jogo do “toca-e-foge”.
Na prática, um jogo muito parecido com o que mais tarde na Metrópole identifiquei como “jogar à apanhada ou à agarrada”. Em Moçambique, tal era o “toca-e-foge”.
Associo essas memórias boas de tempos idos à minha vida de todos os dias e assim, com um meio-sorriso no rosto, comparo essa brincadeira à forma de estar e de ser de tantas pessoas que conheço, numa metáfora psico-analítica de caracterização de personalidades.
Há pessoas que entram na vida das
outras e mudam e interferem e recebem e tocam e depois… depois, simplesmente, fogem…
estão num momento, deixam de estar no seguinte… num dar e não-dar… num estar e
não-estar… por vezes, insistindo no jogo até nos fatigar as pernas (ou o
coração).
Em criança brincava ao toca-e-foge mas, invariavelmente quando almejava alcançar alguém, tocava e permanecia, ali especada, quedada no espaço e no tempo a agarrar o colega de folias, esquecida do obrigatório sprint que me faria ganhar a brincadeira.
Acho que ainda hoje sou assim… toco e páro e permaneço e, tal como outrora, também agora, invariavelmente, esqueço-me das regras que me fariam quiçá ganhar mais uma etapa do jogo da vida.
Sem comentários:
Enviar um comentário