domingo, 5 de abril de 2009

Afasto-me de Lisboa pelo caminho mais longo...

Lisboa…
Regresso a Lisboa sempre com vontade de ver e sentir a grande urbe de uma outra forma…
São sempre olhares renovados os meus, para esta cidade em que vivi em tempos idos…
Por vezes, sinto-me provinciana na cidade grande… outras, a cidade encaixa-se em mim como segunda pele…

Regresso sempre com saudades dos seus recantos, das suas cores, dos cheiros intensos -bons e maus odores que me arrepiam a pele, a mim, que tenho no olfacto um dos meus mais apurados sentidos-…
Saudades da luz intensa que se reflecte no rio em fim-de-tarde.
Saudades dos espaços abertos e novos e dos outros que se fecham em si próprios, connosco lá dentro.
Ao fim-de-semana, a cidade grande não me assusta tanto… gosto de a percorrer sem o bulício e o frenesim do trânsito e da vida sempre a correr que parece que já foi vivida mesmo antes de acontecer. A cidade despe-se de intensidade ao Sábado e ao Domingo e não abala o meu já adquirido jeito serrano. Porém, na cidade -mesmo mais pacata nestes dias- tudo acontece… é só procurar ou, simplesmente, estar atento…
Lisboa…
A luz no rio seduz-me… o sol a esconder-se atrás dos prédios ofusca-me e faz-me sorrir num breve pensamento de que, de repente, parece que estou do outro lado do rio Hudson observando Manhanttan… porém, as luzes do casino mudando de tonalidade não me fazem esquecer o nome da cidade…
A brisa é gélida mas encontro quem arranja artimanhas amorosas para se manter quente… Assumo! Sinto um pouco de inveja por esses jovens que, despreocupadamente, se enroscam em si próprios.

Encontro pássaros e encontro árvores…
diferentes dos pássaros da minha serra,
diferentes da flora da minha serra intensamente gulosa de verde… por agora, basta-me!

Há momentos que reservo para mim... sinto que esperei por eles e que os guardo e acarinho!

Sigo à descoberta de conhecimento… em todos os recantos Lisboa transpira cultura… e é só escolher o tipo de sabedoria de que nos queremos impregnar… realmente, por aqui só bastará ter tempo para ter acesso a um pouco de tudo… ciência ou arte, arquitectura ou música, festivais de rua ou cinema, literatura ou teatro…
Encanto-me com as experiências que já experimentei mais do que uma vez… sim parece que ‘já conheço tudo’ mas existem sempre novos olhares para quem tem o espírito em busca…
Indo ao encontro do centro, calcorreio as praças centrais e os bairros nas colinas mais afamadas e noctívagas.
Subo e desço o Chiado, vejo o render da Guarda no Carmo, sigo pelo Teatro da Trindade, espreito pela Cervejaria recordando episódios da minha vida anterior, aborreço-me pelo Pavilhão Chinês ali para os lados do Príncipe Real estar encerrado nesse dia mais cedo, desço o Bairro Alto de sesta tardia antecipando a noite ébria, ainda estou com amiga de outros tempos também em espaço de livros e mais cultura e histórias que se confundem com terramotos, incêndios e outros séculos … Na rua, equilibristas esforçam-se por alcançar o supremo dom de andar sobre-o-quase-nada, alheios à indiferença que são sujeitos por quem passa… é um espaço estranho a cidade… as pessoas são tão diferentes umas das outras que, só por si, dariam para uma tarde de ávida contemplação… Ao longe, o castelo parece dourado no seu posto altaneiro… é difícil imaginá-lo vermelho e sangrento das batalhas de conquistas e reconquistas. Custa-me regressar às entranhas do metro. Não gosto desse sentir da cidade toda por sobre mim, apesar de achar interessante as pessoas que entram e saem das carruagens… uma senhora idosa fala comigo e acabamos em franca cavaqueira que quase a faz perder o seu ponto de saída… um senhor de cor com educação diz-me boa tarde, senta-se à minha frente e quase automaticamente adormece… são pessoas de Domingo, possivelmente um pouco diferentes das que em dias de trabalho percorrem estas linhas subterrâneas. Resta-me mais uma manhã na cidade grande… aproveito para me encher de tudo aquilo que não existe na minha serra e em dia soalheiro aproximo-me da Praça do Império, do Mosteiro e da grande fortaleza da cultura… entre obras de artistas mais ou menos afamados encho-me de novas imagens e ideias e alimento um pouco a minha imaginação…
Recortes de obras expostas no Museu Colecção Berardo - Centro Cultural de Belém (pintura sobre tela)
Afasto-me de Lisboa pelo caminho mais longo, percorrendo durante uns quilómetros a marginal…
Voltarei em breve.

4 comentários:

  1. Olá,
    Tenho um amigo que me falou muito bem do teu blogger e eu tinha que vir cá ver.

    Parabéns pois tens muito geito para a fotografia e para fazer os textos.

    Beijos

    Rui Pires da Silva

    PS: O Amigo é o Edgar

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  2. A anónima, já sabes quem é...
    Afinal não conheces apenas a serra... pois, eu já sabia.
    Lisboa está-te na alma, tb. E agora com um jeito especial, ou não?
    As duas últimas fotos são de que monumento?
    Gosto de ti.
    Ana Rosa

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  3. como sempre, nas tuas idas a qualquer lugar, consegues potenciar um lugarejo aos píncaros (que eles tão bem merecem!)...
    realmente não damos valor nem ao tempo nem ao espaço que coabitamos: vamos, estamos e voltamos, sem mais a dizer e sem mais a acrescentar...

    bjns

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  4. ...Lisboa...também eu cá estou...
    só não tenho a tua capacidade de olhar para esta cidade com a mesma intensidade que tu... por isso mais uma vez percorro-a através dos teus olhos...

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Autoria e Agradecimento

Todos os textos e imagens são de autoria de Ana Souto de Matos.

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