domingo, 26 de julho de 2009

notícias de uma nuvem mais a Norte...

Desejar ser feliz é uma frase-feita que não me serve
Ser feliz não está mais à frente no tempo e no espaço
está aqui e agora dentro de mim.


O que procuro não é a Felicidade…
Essa, encontro-a num dia de praia com amigos de sempre
na imagem que registo da flor singela de beira de caminho
no regato de montanha, na frescura das manhãs,
no sol que nasce na janela do meu quarto e me tira todos os dias do torpor dos sonhos cálidos,
no abraço dos meus pais ou no beijo de amor da minha pequena filha
num cheiro, num sabor, num toque, num som, numa recordação…
Sou muito feliz em muitos momentos do meu dia.
Encontro-a –à felicidade- por aqui e por ali.
Sou feliz todos os dias, aos pedacinhos.


O que busco é a simplicidade de Ser
um sossego desassossegado
que me mantenha ao mesmo tempo em paz e em efervescência
O que busco é a aventura de saber viver a vida.


As asas crescem um pouco mais a cada dia que passa
por vezes, esse crescimento dói bastante, choro até, entristeço-me e questiono-me se vale a pena aprender a voar...
se o chão não será, porventura, mais seguro e pacato…
Saltei para cima das nuvens, tentando fugir de mim, tentando encontrar-me... Tenho andado por aí a vaguear, vendo o mundo do lado de cima e vendo coisas que nunca tinha vislumbrado.

Ando por aí. Fazendo o que sei e o que não sei. Sendo o que sou e o que nunca fui. Tenho aprendido qualquer coisa... em ritmo lento de saborear.Tudo é lento. É lento o olhar, é lento o sentir. Seguro, porém.
Mas, as nuvens já não aguentam o meu peso
e aproxima-se célere o momento em que -obrigatoriamente- terei de aprender a voar.

Quero soltar-me por mim.

Por isso, sei que aprenderei a voar sozinha…
que me vou lançar no ar...
e flutuar no nada (ou no tudo?)
e berrar bem alto sobre o vale verde
e perder todo o medo.

O dia para aprender a voar está marcado.

Mas a aventura de viver
-essa!-
não a sei sentir sozinha

terça-feira, 14 de julho de 2009

darei notícias... se conseguir...

Adeus
Parto...
agora, à noitinha...
fecho as janelas-que-não-abri,
atiro-me para cima das nuvens e deixo-me ir...

Nada me prende...
já não há sonhos nos sítios onde tenho vivido
e
sem sonhos
tudo perde o sentido.

Sigo caminhos... outros!
não sei quais...
outros caminhos!
qualquer um ...
até onde as nuvens me levarem...
em busca de mim em qualquer lugar.
Noutro lugar.
Caírei, por aí, junto com as gotas mais grossas de chuva...
regarei os campos
e enterrar-me-ei em terra fofa e fértil
criarei novas raízes
e darei notícias,
se conseguir!

Parto agora...
à noitinha...
Adeus

segunda-feira, 13 de julho de 2009

ao meu jeito (4)... ao jeito da própria vida?

«Pelos vistos, tudo o que acontece na vida obedece a um cronómetro invisível: não se pode "decidir" com um minuto de antecedência, mas só quando as coisas e as situações decidem por si mesmas... Tudo o mais é forçado, insensato, desumano, talvez mesmo imoral. A vida decide, maravilhosa e surpreendentemente... e, então, tudo se torna simples e natural.»
Sándor Marai

ao meu jeito (3)...

domingo, 12 de julho de 2009

há dias que não sei...


tTento (es)forçadamente ser racional!
tento viver os dias sem sonhos!
mas sinto...
continuo a sentir...
cada dia que não sonho
é um pedaço de mim que deixa de ter sentido...


mas valerá mesmo a pena sonhar?
ou paga-se cada ilusão com fôlegos da própria vida?


sábado, 11 de julho de 2009

o "mar" mesmo aqui ao lado...

Tentando criar raízes na serra, sinto que o mar chama por mim muitas vezes…
Sou uma mulher que nasceu e cresceu junto ao mar...

O mar acalma-me e tranquiliza o meu espírito em eterna ebulição…
Porém, este dista duas horas -bem contadas- da minha serra e chegar até ele em dia de fim-de-semana é violento, isto é, se quero sentir os primeiros raios que não me deixam a pele tisnada…
Por isso, opto pela “praia” das Rocas, aqui bem ao lado e que me permite um marejar a quinhentos metros de altitude -bem medidos-.
O dia passa-se… as crianças distraem-me…
quase me esqueço dos dias, que ficam ali ao lado, do outro lado da serra…
Acabo por ficar com pele de índia -não obstante a permanência debaixo do chapéu ‘made in spain’ e do factor 50 do protector solar-.
Apesar do ardor, o avermelhado amansa o ar habitualmente meio ensonso da minha quase total brancura.A imensa piscina das Rocas está enquadrada no meio da vila e esta no meio da serra…
a frescura da água recorda-me que a Ribeira de Pera é a fonte permanente da praia, numa corrente que vem directamente do cimo da montanha… Hoje, a praia apesar do calor intenso está tranquila, longe dos dias de imensidões de banhistas e veraneantes.
No alto de Santo António da Neve, o Encontro dos Povos Serranos distrai o povo da opção balnear. Ainda bem… as centenas de pessoas que, mesmo assim, languidamente se esticam ao sol, não são em número suficiente para me acossar o espaço e a intimidade.
É bom chapinhar por ali, quase ao despique com os pássaros que passam o dia a fazer voos rasantes e, mergulhar nas ondas mais alterosas criadas por equipamento sofisticado importado expressamente de países nórdicos (!!??)… E apesar do “mar” das rocas ser uma espécie de sucedâneo do mar autêntico, o dia é agradável e, por horas, quase me esqueço do verde e mergulho no azul.

domingo, 5 de julho de 2009

O Tesouro!

a manhã foi extraordinária...

arrancada a um sono já ligeiro, o desafio surgia ao meu ouvido...
"vamos andar?"...
fomos... com o mesmo jeito, com o mesmo estilo...
manhã fresca e cinzenta...serra acima...
o passo lento inicial assumindo uma marcha firme, após...
o som da música a cadenciar-nos...
e ao longe, o nosso castelo a surgir -encantado!- por entre a névoa, enquanto um ténue chuviscar não nos demovia do intento de avançar pelo percurso definido...

[[nestes momentos, os laços apertam mais um pouco...
num aperto que não magoa, nem sufoca...
a amizade consolida-se -nestes instantes- e torna-se ela própria fundamental aos dias...
pelo caminho, de tudo um pouco... o estar e o ser, o pensar e o querer, num conjunto de cumplicidades que são só nossas...]]

os leves chuviscos tranformam-se em chuva...
molham-nos o cabelo, a roupa...
brincamos com a situação...
sentimo-nos deusas do tempo...
purificamos a pele e a mente...
está calor...
e no meio da nossa natureza
-que ousamos perturbar na sua perfeição-
descobrimos as pedras preciosas,
gentilmente depositadas em toda a sua simplicidade e esplendor por sobre as folhas do caminho...
a natureza tem formas subtis de nos dar respostas!!!



quando a natureza se transforma numa tela (os cardos)...

(recupero as minhas palavras... com novos cardos que encontro em outros caminhos...)

Os cardos que encontro no caminho
tão agressivos ao tacto –tão ariscos-
mas -mesmo assim-
com uma beleza que não sobressai ao primeiro olhar
-diriam genuína, assaz rude, assaz pura-

poderiam ser o símbolo da alma serrana
que não se vende, que não se dá
sem prova de confiança ou lealdade
como a relação íntima com a natureza
em que os espinhos não picam, mas protegem!

de que é feita a vida?....................

A vida é feita de nadas...
de grandes serras paradas,
à espera de um movimento...



(excerto de Bucólica - Miguel Torga)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A minha própria natureza...


com a minha serra
eu aprendo a ser Mulher!
-
e à Natureza...
minha própria Natureza???-
à Natureza eu vou buscar a frescura e a inquietude... a força...

para respirar,
para sorrir,
para sonhar,
para acreditar,
para viver!

Autoria e Agradecimento

Todos os textos e imagens são de autoria de Ana Souto de Matos.

Todos os direitos estão reservados.

São excepção as fotografias do Feto Real e do Cardo que foram cedidas pelo João Viola e 2 imagens captadas na Net sem identificação de autor.