E não me venham dizer que é apenas do meu jeito de olhar… não apenas… as pessoas em Maputo são boas pessoas no seu todo… têm expressão fácil, sorriso fácil, palavra fácil e, contudo, como estão presos a quotidianos difíceis.
Deambulei pelas ruas, pelas avenidas, pelos lugares de comércio (afinal todo e qualquer lugar é de comércio), pelos monumentos, um pouco por todo lado, sempre deslumbrada pelas gentes que me circundavam e me olhavam com a curiosidade natural de verem uma mulher branca calmamente a andar por ali, a olhar em redor, a apreciar, a falar sem receio.
Tanta gente que fixei. Porém é pelo sorriso de Bega que começo. Um sorriso puro e genuíno de mulher muito jovem, feliz de lhe gabar a arte de tecer com feijão verde a banca tosca de legumes dispostos num saco branco de substracto aberto ao meio à laia de esteira, numa das entradas do Bazar de Maputo. Um sorriso tão cheio de confiança nas minhas palavras, no meu “volto já e levo qualquer coisa, vou só trocar meticais”, no meu elogio sincero sobre a sua beleza e o seu cuidado e esmero na disposição das couves e dos limões.
Fiquei por ali, por largos minutos, à entrada do Bazar a falar com Bega… a perguntar-lhe a idade, o que fazia para além de vender legumes, o que pensava, a enaltecer-lhe o jeito de “bordadeira”. Prometi regressar rapidamente para lhe comprar cenouras, o único legume que poderia apreciar em quarto de hotel à laia de fruta. Escolhi duas belas e pujantes cenouras em troca dos 15 meticais que me custaria um quilo. Nunca senti tanto agradecimento no olhar e nas palavras por conta de coisa nenhuma.
O sorriso de Bega ficou registado na minha máquina fotográfica e o adocicado das cenouras de Bega por muito tempo no meu registo de paladares especiais.
O regresso à blogosfera e o regresso às origens. Imagem linda, que nos transporta para paragens africanas. O que sempre me seduziu é a arte com que estas mulheres dispõem os montinhos dos produtos, a ternura com que o fazem e o sentido estético das cores. África tua, Ana.
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