quarta-feira, 31 de agosto de 2011

não é a felicidade...

se calhar
o que
eu
procuro
não é bem
a felicidade
NUNCA FOI
ou
então
se calhar
dou-lhe
um outro
NOME
ou
então

se calhar
o que eu
procuro
é
uma outra
coisa QUALQUER

se calhar
É
uma outra
COISA QUALQUER
se calhar
é...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

quando o fundo do mar vem respirar o sol...

Fundo do mar
No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.
Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.

Sophia de Mello Breyner Andresen
Obra Poética I
Caminho




(sem) rumo...


e os meus passos que não te encontram...


domingo, 28 de agosto de 2011

planamos...

Linha de Vida.... (42)

afã... (5)

contemplativa...

o lado oculto... (6)

plano...


onda...

ONDA (WAVE)
de Tom Jobim
na voz dos seus filhos Daniel e Maria Luísa
.............................................................................
Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho...
O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Vem de mansinho à brisa e me diz
É impossível ser feliz sozinho...
Da primeira vez era a cidade
Da segunda o cais e a eternidade...
Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver...
Vou te contar...

O Castelo...

Multidão...


Linha de Vida... (41)


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O Cheiro...

As mulheres são um cheiro.
É pelo cheiro que as catalogamos no íntimo arquivo dos desejos.
A que cheira uma mulher? – perguntou-me um dia a Diana.
Uma rosa cheira a rosa. Um cravo cheira a cravo. Não sei a que cheira uma orquídea. Mas sei que todas as orquídeas cheiram igual, respondi.
Já as mulheres, nenhuma repete o cheiro. As que nos refrescam têm cheiro de rio, as que nos enchem têm cheiro de mar. Todas as mulheres têm um cheiro húmido. Como a boca. Como o sexo.
Só gostamos de uma mulher quando gostamos do seu cheiro. Quando tudo nos leva a bebe-la, como um chá quente, excitante, aromático.
Se não gostarmos do seu cheiro não conseguimos ama-la, nem na pele nem na alma.
Podemos ser amigos, companheiros, nunca amantes.
Amar é beber um cheiro.
É transporta-lo para dentro de nós.
Amamos uma mulher quando cheiramos ao seu cheiro.


.......palavras de João Morgado
........fotografia ASM - recorte de obra da
Colecção Berardo exposta no CCB
........melodia de Pedro Barroso

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Lídia, sentia de novo!!!

Lídia, sentia de novo!!! o seu mundo do avesso… de pernas para o ar em pino gaiato e travesso. Troçando de si esse seu mundo, rindo das suas dúvidas, dos anseios e expectativas, das suas ténues tentativas para fazer os dias diferentes, talvez um pouco mais interessantes, talvez apenas com alguma pequena história para contar ou recordar.

Por três vezes, o seu subconsciente a atazanou com sonhos de alerta. Pequenos lapsos de lucidez que fluíam em significados no meio do seu descanso da noite. Prenúncios de futuros? Meras imagens de sobreaviso?




























Da primeira vez, não dormia profundamente e por isso acordou com o ruído. A seu lado uma bola saltitava. Ensonada, teve algum discernimento e perguntou-se o que fazia ali, bem no meio do seu tapete vermelho muito escuro, uma bola a saltitar, foliona. Olhou-a com maior atenção, enquanto o sono se desfazia. Bola jovem, virava e revirava num sentido sem sentido, rindo às gargalhadas do seu espanto e dúvida. A bola, estacou um momento para a fixar. Lídia não lhe descortinou boca ou olhos, mas sabia que ria, sabia que olhava. Desalmadamente, a esfera percorreu todo o espaço do seu quarto enquanto o som do seu gozo lhe ecoava nos ouvidos. Notoriamente ria-se de si! Percebeu, então, que esta não ria propriamente de si, do seu exterior ou da sua forma de ser mas das suas atitudes, das suas hesitações, receios e ousadias. Atenta, Lídia descobriu que todo o seu pequeno-grande mundo se materializava naquela bola que se pavoneava defronte de si, bem no meio dos seus sonhos, bem no meio do seu quarto.

Da segunda vez, havia um pássaro que, de quando em quando, ofuscado pelo brilho do vidro bicava peremptoriamente a janela nos finais de tarde. Lídia contemplava-o e idealizava o pássaro como um sinal, um qualquer sinal divino, que exactamente àquela hora do dia lhe recordava a importância de todos os dias. O pássaro bicava a janela e ela ali, imóvel, apenas observando-o e criando elevados e bons augúrios para o seu futuro. Não ousava sequer um movimento com o receio de o espantar, levando consigo os desígnios da sua vida (ou do seu ser?).

Finalmente, da terceira vez, a imagem mais bucólica, situava-a junto a um curso de água tão transparente que o leito de seixos se via claramente através das correntes translúcidas. A certo ponto do curso do riacho, este formava pequenos lagos de montanha, bacias de água escavadas na rocha. Lídia, detinha-se olhando para dentro e imaginava tratarem-se de grandes aquários, tão transparentes que era possível perceber o brilho escamado de peixes coloridos no seu interior. Um aquário de peixes multicolores, ansiando O alimento.


Texto

Lídia, sentia de novo!!...
(um excerto de qualquer-coisa-que-vai-nascendo-por-aí....)

Imagem

tela O Troféu de
António deMATOS

enquanto não passa a procissão...

Autoria e Agradecimento

Todos os textos e imagens são de autoria de Ana Souto de Matos.

Todos os direitos estão reservados.

São excepção as fotografias do Feto Real e do Cardo que foram cedidas pelo João Viola e 2 imagens captadas na Net sem identificação de autor.