Lídia, sentia de novo!!! o seu mundo do avesso… de pernas para o ar em pino gaiato e travesso. Troçando de si esse seu mundo, rindo das suas dúvidas, dos anseios e expectativas, das suas ténues tentativas para fazer os dias diferentes, talvez um pouco mais interessantes, talvez apenas com alguma pequena história para contar ou recordar.
Por três vezes, o seu subconsciente a atazanou com sonhos de alerta. Pequenos lapsos de lucidez que fluíam em significados no meio do seu descanso da noite. Prenúncios de futuros? Meras imagens de sobreaviso?
Da primeira vez, não dormia profundamente e por isso acordou com o ruído. A seu lado uma bola saltitava. Ensonada, teve algum discernimento e perguntou-se o que fazia ali, bem no meio do seu tapete vermelho muito escuro, uma bola a saltitar, foliona. Olhou-a com maior atenção, enquanto o sono se desfazia. Bola jovem, virava e revirava num sentido sem sentido, rindo às gargalhadas do seu espanto e dúvida. A bola, estacou um momento para a fixar. Lídia não lhe descortinou boca ou olhos, mas sabia que ria, sabia que olhava. Desalmadamente, a esfera percorreu todo o espaço do seu quarto enquanto o som do seu gozo lhe ecoava nos ouvidos. Notoriamente ria-se de si! Percebeu, então, que esta não ria propriamente de si, do seu exterior ou da sua forma de ser mas das suas atitudes, das suas hesitações, receios e ousadias. Atenta, Lídia descobriu que todo o seu pequeno-grande mundo se materializava naquela bola que se pavoneava defronte de si, bem no meio dos seus sonhos, bem no meio do seu quarto.
Da segunda vez, havia um pássaro que, de quando em quando, ofuscado pelo brilho do vidro bicava peremptoriamente a janela nos finais de tarde. Lídia contemplava-o e idealizava o pássaro como um sinal, um qualquer sinal divino, que exactamente àquela hora do dia lhe recordava a importância de todos os dias. O pássaro bicava a janela e ela ali, imóvel, apenas observando-o e criando elevados e bons augúrios para o seu futuro. Não ousava sequer um movimento com o receio de o espantar, levando consigo os desígnios da sua vida (ou do seu ser?).
Finalmente, da terceira vez, a imagem mais bucólica, situava-a junto a um curso de água tão transparente que o leito de seixos se via claramente através das correntes translúcidas. A certo ponto do curso do riacho, este formava pequenos lagos de montanha, bacias de água escavadas na rocha. Lídia, detinha-se olhando para dentro e imaginava tratarem-se de grandes aquários, tão transparentes que era possível perceber o brilho escamado de peixes coloridos no seu interior. Um aquário de peixes multicolores, ansiando O alimento.
Texto
Lídia, sentia de novo!!...
(um excerto de qualquer-coisa-que-vai-nascendo-por-aí....)
Imagem
tela O Troféu de
António deMATOS
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