Um ano e meio após, regressámos a Ribeira de Pena.
O calor sufocante do dia, absorvia a escassa energia que nos restava para cumprir um momento permanentemente adiado… momento de recordação, de nostalgia, de homenagem.
A emoção dominou-nos e percorremos –devagar- os instantes e os lugares onde fomos felizes.
Recordámos, principalmente, as últimas férias desse Verão que, de repente, já nos parece perdido no tempo… o afã de pôr bonita a “grande dama” para nos receber, conferindo-lhe embora toscamente algum do brilho de outrora no tempo da avó banoresa, quando a Casa regurgitava de esplendor e de vida… vida dos campos profusos, enleada com os toques senhoris da aristocracia rural... recordámos a felicidade desses nossos dias, não sabendo que seriam os últimos contigo a nosso lado.
Andámos por ali… cheirando a frescura quase mágica do jardim das japoneiras, encantados com as florzitas singelas e de cores vibrantes, ouvindo o som da água a cair no tanque dos girinos, caminhando no terreiro sob a sombra das cameleiras seculares e circundando a Casa, testemunha serena das nossas próprias recordações. A criança isolou-se e percorreu o espaço… sentidamente chorou, sentada nas velhas pedras do murete. Revivendo outros dias, outros momentos, saltitou por debaixo da nogueira, subiu as escadas do fundo, pendurou-se nos ramos das árvores. Quanto a mim, recordei-te e tornei-te próximo.
Senti, mais do que nunca, a falta da tua presença e da tua serena e infindável sabedoria que me sabia tranquilizar as minhas permanentes dúvidas sobre a vida, sobre as pessoas, sobre os sentimentos.
Imaginei-te por ali… finalmente feliz, enredado nos braços do primeiro e único grande amor da tua vida, Santa Marinha, pensando que quem não te soube compreender e aceitar esse amor, nunca te conheceu o âmago!-
Questionei-te sobre mim, sobre o que pensar, sobre o que fazer, sobre como continuar o caminho. Coloquei-te os meus sonhos e os meus anseios. Pedi-te que me ajudasses, como sempre, a perceber-me.
Disse-te que não conseguia sentir tantas emoções de uma só vez, que não as sabia orientar. Mais uma vez, imaginei o teu sorriso paternal e complacente e o que, com toda a certeza, me dirias… que encontraria todas as respostas dentro de mim...que conseguiria ir mais-além e, simplesmente, Ser!… acrescentarias, que era a mulher mais perfeita que conhecias –e eu fingindo acreditar, para te agradar! como se não me conhecesse por dentro e por fora e soubesse do que “a casa gasta” como diz por aí o povo-.
Andámos por ali, o calor atormentando a pele, dificultando o andar, o respirar…
A saudade -que contrasenso!- a dizer para nos irmos embora depressa, depressa… e a criança a andar sozinha sem querer amparo, revivendo e criando, à sua maneira, defesas para o futuro.
Também eu aprendi a amar Santa Marinha.
Sei que estás lá e que por lá ficarás para sempre, feliz!
Não sei se alguma vez mais regressarei.
Não sei se alguma vez mais regressarei.