Olhares em Equipa (3)
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
sábado, 29 de outubro de 2011
Outras Palavras!
Esquece a forma como escreveste até ao dia de hoje. Esquece o que não és. Deixa para trás as palavras usadas, coçadas pelo desgaste, sempre as mesmas, a rodear o que tem sentido para os outros, mas deixou de ter sentido para ti. Deita-as fora! Às palavras. Agarra o que for que pressuponha novas imagens. Deixa de lhes ser servil. Para tal, conjectura largar também a pele, a tua pele. Arranca-a. Aquela com que teimas, repetidamente, revestir sem novidade as palavras, as frases, as histórias. Esquece os vocábulos velhos. Permanecem belos mas estão gastos, enfartam já o estômago que existe no pensamento de todos os leitores, deixando-os com azia da comida repetitiva de paladares e olfactos e com fluidos biliares acidulados que obrigam a pastilhas que impeçam indigestões cerebrais. Larga tudo. Provoca um motim dentro de ti e escreve para além do que sentes e observas. Deixa de fazer o agradável, o airoso, o gentil e todos esses adjectivos adocicados com que revestes as palavras para as tornar supostamente felizes e soalheiras. Sai de ti, do teu olhar, do teu timbre, do teu cheiro, do teu paladar, do teu toque. Escapa a esse cativeiro a que, por vontade própria, te subjugaste. Esquece. Sai. Só assim principiarás, com efeito, a aventura, uma outra. Provoca-te. Incita-te. Estimula-te à descoberta. Escolhe outras palavras!
domingo, 23 de outubro de 2011
O GRITO
O GRITO
revolve-se transtorna-se ensandece
O GRITO
que cerrado no silêncio negro de uma solitária interior rasteja num vai-e-vem de
esgar contido e ensurdecedor para-cá-e-para-lá desorientado exaltado
O GRITO
- um só -
que potenciado e elevado aos decibéis mais incomportáveis do silêncio
desvairado enlouquecido trepa ao avesso da boca procurando
- em vão -
a chave que lhe poderia abrir os lábios à liberdade
Tela: O GRITO
deMatos
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
eu...
Não me perguntem mais porquês ...
dou as respostas que consigo!
Eu
Apenas!
na transparência e na opacidade
na leveza do olhar e do sonho
e
na corrente que me agarra ao chão
sábado, 15 de outubro de 2011
à porta...
bateste à porta…
à minha porta
abri-te a porta de casa
abri-te a minha casa para ti
abri-me para ti
ficaste, ali…
à soleira
contemplando-me em ávido desassossego
querendo desesperadamente entrar
querendo desesperadamente entrar
cumprimentámo-nos
à porta
e te fiz as honras, entra…
porém…
porém…
num sôfrego sufoco ficaste à porta
e,
da porta
e da porta... não passaste.
Texto:
a vez de Laura!!...
- Laura abriu as portas de sua casa, mas Tomás, contidamente, apenas permaneceu na soleira -
(um excerto de qualquer-coisa-que-vai-nascendo-por-aí....)
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
a rosa-dos-ventos…
rabisco um adeus na alvura da folha
reescrevo-o com letras mais seguras, daquelas moldadas em estatura e
que, em forma quase militar,
nos obrigam a bater a pala em regra de respeito
ADEUS
[não é uma adeus sólido, convenhamos…
apenas um adeus relativo…
ausente, se possível, de lamúrias, deixando espaços presentes nos dias para os ‘olás’ acertados e para as manifestações orientadas por manuais e códigos homologados]
rabisco de novo um adeus …
permito-me, pela última vez, a uma palavra desenhada com letra redonda, cheia de ternuras contidas e insatisfeitas…
momento fugaz de suave despedida solitária.
Decido-me, todavia, a uma atitude!
regresso, pois, às maiúsculas determinadas, engrossando o contorno das letras
ADEUS
Sublinho-as ainda em determinação convicta, por ora…
Sublinho-as ainda em determinação convicta, por ora…
ADEUS
e complemento-as com um advérbio
determinante quanto baste para fazer jus à decisão
ADEUS MESMO
O meu ser já não comporta mais…
por isso, profiro um ADEUS palpitante, sonoro, gritante, que me ensurdece a mente
e,
prossigo o caminho…
O meu ser já não ousa compaixão…
deixa a parte doente de si para trás…
(a que sente e se magoa, constrange, perturba, sofre frágil e vulnerável, a que dói)
...que fique para trás e padeça sozinha na beira da estrada…
ADEUS a essa parte de mim...
a essa metade que não me serve com devoção cega…
Prossigo.
Parto.
É esse o rumo!
Assim o determinou a rosa-dos-ventos!
Imagem da autoria de MRP
Maria Cascão
Maria Cascão
dark light (in)side
pisámos um risco
qualquer,
qualquer,
subtil, ténue, despercebido
um risco imaginário
da fronteira da nossa
escuridão interior
e, agora...
e agora que saboreámos
o avesso de nós próprios
o avesso de nós próprios
e provámos o sabor
de cada um no outro
fomos marcados com
esse sabor de saliva e plasma
e agora que nos perdemos
(e nos encontrámos)
um no outro
sem retrocesso,
um qualquer retorno, solução,
ou desvanecimento
o escuro envolveu-nos
e tomou-nos como seus
e, agora...
e agora que nos perdemos
(e nos encontrámos)
um no outro
sem retrocesso,
um qualquer retorno, solução,
ou desvanecimento
o escuro envolveu-nos
e tomou-nos como seus
e arrebatou-nos
enlaçou-nos
um escuro quente
fluído
num calor de breu
e seiva que
acalenta
alvoroça
assombra
entontece
instiga
alivia
engrandece
sacia
e, agora...
e agora que nos perdemos
dentro um do outro e que
dentro um do outro e que
ultrapassámos um
limite qualquer
subtil, ténue, despercebido e
sem retrocesso possível
encontramo-nos
enfim!
em nós
e, bem cá dentro dos
nossos seres
resguardados na
mais profunda escuridão
mais profunda escuridão
sentimos
e somos
LUZ
inspirações em torno da
tela: O Corpo
tela: O Corpo
deMatoscolecção particular
sábado, 1 de outubro de 2011
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Autoria e Agradecimento
Todos os textos e imagens são de autoria de Ana Souto de Matos.
Todos os direitos estão reservados.
São excepção as fotografias do Feto Real e do Cardo que foram cedidas pelo João Viola e 2 imagens captadas na Net sem identificação de autor.
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