rabisco um adeus na alvura da folha
reescrevo-o com letras mais seguras, daquelas moldadas em estatura e
que, em forma quase militar,
nos obrigam a bater a pala em regra de respeito
ADEUS
[não é uma adeus sólido, convenhamos…
apenas um adeus relativo…
ausente, se possível, de lamúrias, deixando espaços presentes nos dias para os ‘olás’ acertados e para as manifestações orientadas por manuais e códigos homologados]
rabisco de novo um adeus …
permito-me, pela última vez, a uma palavra desenhada com letra redonda, cheia de ternuras contidas e insatisfeitas…
momento fugaz de suave despedida solitária.
Decido-me, todavia, a uma atitude!
regresso, pois, às maiúsculas determinadas, engrossando o contorno das letras
ADEUS
Sublinho-as ainda em determinação convicta, por ora…
Sublinho-as ainda em determinação convicta, por ora…
ADEUS
e complemento-as com um advérbio
determinante quanto baste para fazer jus à decisão
ADEUS MESMO
O meu ser já não comporta mais…
por isso, profiro um ADEUS palpitante, sonoro, gritante, que me ensurdece a mente
e,
prossigo o caminho…
O meu ser já não ousa compaixão…
deixa a parte doente de si para trás…
(a que sente e se magoa, constrange, perturba, sofre frágil e vulnerável, a que dói)
...que fique para trás e padeça sozinha na beira da estrada…
ADEUS a essa parte de mim...
a essa metade que não me serve com devoção cega…
Prossigo.
Parto.
É esse o rumo!
Assim o determinou a rosa-dos-ventos!
Imagem da autoria de MRP
Maria Cascão
Maria Cascão
Adeus! Como determina a rosa dos ventos!
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